Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Será mesmo uma despedida emblemática caso Daniel Day-Lewis confirme sua aposentadoria. Ele – o único a ter três estatuetas do Oscar de melhor ator – definiu “Trama fantasma” como o ponto final de uma carreira extraordinária no cinema. É provável que o inglês mude de ideia (já o fez antes, inclusive), mas isso não importa agora. O novo filme de Paul Thomas Anderson, com quem Daniel já havia feito o cultuado “Sangue negro” (2007), traz o ator mergulhado em notas de melancolia até então pouco exploradas em seus filmes. Para além da casca de homem forte, marca de seus papéis também em “Gangues de Nova York” (2002), “Em nome do pai” (1992) e “Meu pé esquerdo” (1989), um interior incolor ganha relevo. Seu personagem, o estilista Reynolds Woodcock busca cor para a vida e parece encontrá-la ao conhecer Alma (Vicky Krieps): esse é o nó criativo da história, cujo desdobramento obedece a uma costura inesperada e complexa. Como parte do feitiço, a trilha de Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead, ajuda a transportar o espectador para aquela vida luxuosa e aparentemente controlada. No jogo entre o casal, permeado por vultos, o descontrole sobressai e, com ele, amor e desamor, dominado e dominador se alternam. Recebeu seis indicações ao Oscar (incluindo o combo filme+ator+diretor) e levou apenas o de melhor figurino.
‘Trama fantasma’. Confira a programação aqui.
Moonee (Brooklynn Prince) mora nas redondezas da Disney, embora o famoso parque, uma suposta terra de sonhos, não faça parte do seu universo infantil. Ela vive com a mãe num hotel simples de cor lilás, localizado à beira da estrada do subúrbio de Orlando, e desbrava os arredores na companhia dos amigos. “Projeto Flórida” caminha com esses pés pequenos e elege o olhar da espevitada menina como fio condutor. A opção narrativa é a força do longa, uma crônica eventualmente agridoce, mas atenta às asas da fabulação. Ainda alheia aos problemas da vida adulta, Moonee cospe, grita, xinga, briga e brinca enquanto Halley (Bria Vinaite) faz malabarismos para manter a vida mambembe com a filha. Willem Dafoe está ótimo como o administrador do hotel, mas é mesmo Brooklynn o coração do filme.
Projeto Flórida. Confira a programação aqui.
No domingo (04.03), Denise Fraga dedicou a sessão do espetáculo a Tônia Carrero, que morreu no dia anterior. Uma das grandes divas do teatro brasileiro, Tônia já havia interpretado em 2002 o papel agora defendido por Denise. Muitas outras montagens foram feitas, prova de que a comédia escrita pelo suíço Friedrich Dürrenmatt, encenada desde 1956, permanece atual. A história mostra o retorno de uma ex-moradora da fictícia cidade de Güllen. Agora bilionária, ela promete salvar o lugar da falência, mas impõe uma condição: que alguém mate o seu amor de juventude por quem foi abandonada grávida. Em entrevistas, Denise destacou como o dramaturgo, com ironia e humor, aborda temas como ética, justiça e omissão. Justamente por isso, considera que “A Visita da Velha Senhora” encerra uma espécie trilogia ao lado de “A alma boa de Setsuan” e “Galileu Galilei”, seus espetáculos anteriores.
‘A visita da Velha Senhora’. Quinta-feira a sábado, às 19h. Domingo, às 18h. Ingressos a R$ 30. Em cartaz até 25.03.
Sesc Ginástico. Avenida Graça Aranha, 187 – Centro.
É a chance de conhecer a trajetória da cineasta que, a despeito da força criativa, ainda é uma ilustre desconhecida do grande público. A programação não poderia ser mais completa, já que vão ser exibidos os 17 filmes dirigidos por ela, a única mulher a integrar o Cinema Novo. A condição feminina e as engrenagens políticas são interesses evidentes em muitos dos seus filmes. Entre os trabalhos de maior destaque estão “Carmen Miranda: bananas is my business” (1995), premiado nos festivais de Brasília e Havana, e “Vida de menina”, vencedor do Festival da Gramado de 2005. Como parte da retrospectiva, debates, mesas-redondas e uma aula magna ministrada pela própria Helena, marcada para quarta-feira (14.03), às 19h.
Retrospectiva Helena Solberg. Há sessões todos os dias (exceto na terça-feira, quando o CCBB fecha). A programação completa está aqui. Em cartaz até 19.03. Gratuito.
CCBB. Rua Primeiro de Março, 66 – Centro.
Dez filmes da cineasta alemã Margareth Von Trotta compõem a mostra promovida pela Caixa Cultural. Seus trabalhos conquistaram plateias europeias e foram incluídos nos festivais mais importantes do mundo. Vale a pena também ficar de olho nos debates!
O Cinema de Margarethe Von Trotta. Em cartaz até 18.03. Confira a programação completa aqui. Gratuito.
Caixa Cultural. Av. Almirante Barroso, 25 – Centro.
Filipe nasceu em Salvador, mudou-se aos 9 anos para Belo Horizonte e, aos vinte e poucos, decidiu encarar o Rio de Janeiro. Há quatro anos conheceu Gustavo, cria da capital fluminense. Jornalistas culturais, gostam de receber amigos em casa e ir ao cinema. Cada vez mais são adeptos de programas ao ar livre - sempre que podem, incluem no passeio Chaplin, esperto vira-lata adotado há um ano.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.