Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Filmes + filmes + filmes. O Festival é isso e não aquilo. A vigésima edição paira sobre novembro e deixa de lado o tradicional outubro de outras primaveras. Vem após a rasteira das eleições para, quem sabe, provocar ereções: afinal, cinema ressuscita defunto, faz cócegas na alma e corta feito faca o corpo e o conceito. Como de costume, a seleção traz obras já celebradas em Cannes, Veneza e Berlim. Aqui, uns apontamentos modestos sobre o que queremos ver nesse mundão-cinema. Pá-pum. Segura o tchan. A gente amarra e você desamarra.
– “Infiltrado na Klan”: após um começo de década meio morno, Spike Lee está na linha de frente desta temporada. A recepção em Cannes foi calorosa. Após o sucesso de “Corra!” e “Pantera negra”, Hollywood redescobriu o “cinema negro”, do qual Lee – o cara que fez “Faça a coisa certa” – é um dos nomes mais influentes. A questão racial é central no filme, embalada aqui por um humor crítico.
– “Cafarnaum”: outro filme que deixou Cannes com status de obra-prima. É da diretora libanesa Nadine Labaki, ainda pouco conhecida no Brasil, embora tenha feito um dos segmentos de “Rio, eu te amo”. Ela é atriz e faz uma participação no longa.
– “Assunto de Família”: apesar dos elogios aos filmes citados acima, a Palma de Ouro ficou com este drama japonês, dirigido por Hirokazu Koreeda. Era a quinta vez que ele concorria ao prêmio máximo do Festival de Cannes. É dele os elogiados “Ninguém pode saber” e “Pais e filhos”.
–“No portal da eternidade”: Julian Schnabel é também um renomado pintor, o que talvez explique o visual sempre apurado dos seus filmes, com destaque para o belíssimo e angustiante “O escafandro e a borboleta”. Dessa vez, ele conta os últimos dias Vincent van Gogh, vivido pelo camaleônico Willem Dafoe, premiado no último Festival de Veneza.
“Central do Brasil”: o filme de Walter Salles é reapresentado nas telonas para comemorar os 20 anos de seu lançamento. É uma das jornadas mais emocionantes do nosso cinema, um drama que se costura com sensibilidade e ternura. Fernanda Montenegro alcança o sublime na pele Dora, a escrevedora de cartas que decide ajudar o garoto Josué (Vinicius de Oliveira) a reencontrar o pai. A viagem dele se torna a redenção dela.
Mais coisas: tem também os novos filmes de Lars Von Trier (“A casa que Jack construiu”), Gus Van Sant (“A pé ele não vai longe”), Jean-Luc Godard (“Imagem e palavra”), Mike Leigh (“Peterloo”), Olivier Assayas (“Vidas duplas”) e Steve McQueen (“Viúvas”). Já fez sua lista?
Festival do Rio. Programação completa, com filmes, salas e horários, no site.
Um dos filmes mais aclamados do diretor Lars Von Trier, “Dogville” foi adaptado para os palcos. É uma escolha arriscada e interessante, já que a obra original evocava uma estrutura teatral, com um cenário-palco como centro da ação. O ponto de partida é o mesmo: a pacata rotina dos moradores de um pequeno vilarejo é abalada pela chegada inesperada de Grace, uma forasteira misteriosa que procura abrigo para se esconder de um bando de gangsteres. Ela é acolhida pelas famílias e, aos poucos, se torna uma escrava daquelas aparentes pessoas bondosas. Mel Lisboa defende o papel que no cinema foi de Nicole Kidman. Fábio Assunção, Bianca Byington e Selma Egrei também estão no elenco da montagem, dirigida por Zé Henrique de Paula.
Dogville no Teatro Clara Nunes. Sexta-feira e sábado, às 21h. Domingo, às 20h. Ingressos a partir de R$ 50. Em cartaz até 16 de dezembro.
Teatro Clara Nunes: Shopping da Gávea: Rua Marquês de São Vicente, 52 – Gávea.
É sobre lá, do outro lado do mar, mas vale para cá também. A mostra abre espaço para conhecermos a produção realizada na Espanha durante o tenebroso e longevo governo ditatorial de Franco, de 1939 a 1975. Foi nesse período que nomes como Juan Antonio Bardem, Luis García Berlanga e Carlos Saura se consolidaram, ainda que não sejam tão populares por aqui quanto Pedro Almodóvar, cuja carreira se desenvolve após a morte do ditador. A proposta, portanto, é apresentar 12 filmes pouco vistos no Brasil. Que tal?
Os filmes que driblaram a censura de Franco. De terça-feira a domingo, com sessões em vários horários. Ingressos a R$ 6. Até 11.11. Confira a programação aqui.
Caixa Cultural. Av. Almirante Barroso, 25, Centro
Filipe nasceu em Salvador, mudou-se aos 9 anos para Belo Horizonte e, aos vinte e poucos, decidiu encarar o Rio de Janeiro. Há quatro anos conheceu Gustavo, cria da capital fluminense. Jornalistas culturais, gostam de receber amigos em casa e ir ao cinema. Cada vez mais são adeptos de programas ao ar livre - sempre que podem, incluem no passeio Chaplin, esperto vira-lata adotado há um ano.
Ver todos os postsFesta Vrau no rio dia 09/11
Fikdik
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.