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Reflexões sobre o SXSW Edu 2021

Quem escreveu

Chicken or Pasta

Data

16 de March, 2021

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O SXSW EDU Online aconteceu entre os dias 9 e 11 de março para discutir o futuro da educação.

*Escrito por Felipe Menhem do @42formas

Novos acordos sociais sobre novos tempos

O SXSW Edu 2021 foi uma edição diferente. Sem fila para entrar nas salas, ou correria entre o Centro de Convenções e os hotéis. Também ficamos sem uma cerveja no Easy Tiger ou no Craft Pride, lá na Rainey Street. Mas tudo bem, afinal tivemos SXSW Edu 2021!  

Esse foi o meu quinto ano do festival que descobri meio sem querer em 2016 e que me fez ficar apaixonado pelo evento e pela cidade de Austin. Descobri o EDU enquanto fazia a minha inscrição pro SXSW Interactive. Acabei comprando um badge na esperança de ver algo sobre educação corporativa, minha área de atuação. A programação tinha um total de zero sessões sobre o tema, mas isso não me impediu de voltar religiosamente de 2017 até 2019, quando apresentei um painel na edição. 

Adoro o clima da cidade durante o EDU, porque é uma experiência mais controlada do que a do festival SXSW. Você consegue participar de mais eventos, festas e palestras e tem a aura nobre de estarmos falando sobre educação e aprendizagem.

Nesse texto, quero falar de duas coisas: a experiência de um festival online e dos principais aprendizados baseado no meu recorte de sessões. 

Como foi a edição online

É óbvio que estar sentado na minha sala de casa não é a mesma coisa de andar pelo centro de Austin, no entanto, acompanhar o evento online foi uma experiência melhor do que imaginava. O time de tecnologia fez um trabalho competente para montar uma plataforma que me permitia fazer as duas coisas mais comuns de uma situação normal do SX: acompanhar as palestras e fazer network.

Verdade seja dita, a experiência da manhã do primeiro dia foi horrível. Sistema instável, longos bufferings de vídeo e instabilidades. Mas a organização resolveu o problema rapidamente e aí entramos no fluxo. 

Sendo o “feito” sempre melhor que o “perfeito” e por se tratar de uma situação nova, entendo a escolha da organização por tantas sessões gravadas. Joga as possibilidades de interação para longe, mas pelo menos garante a fluidez do evento. Algumas sessões eram ao vivo, pelo Zoom, com limitação de público e mais “normais” para o padrão que conhecemos. A outra grande vantagem do online é poder sair das sessões chatas e entrar em outras com mais facilidade.

O network também aconteceu sem os “acidentes felizes” que as filas ou os bares proporcionam ou o clima de “colônia de férias”, quando você revê as pessoas a cada ano e se atualiza. Mas a plataforma funcionou bem, com um esquema de mensagens e agendamentos de reunião para começar as conversas.

Lições aprendidas 

Um festival do tamanho do SXSW Edu sempre permite muitos recortes e lições. Por isso acho desafiador falar qual foi “A” grande conclusão. Não há e essa é a graça. As lições e conclusões são baseadas na sua curadoria e na sua experiência, e é por isso que os happy hours são importantes! Na falta deles, vou compartilhar o meu recorte aqui, com as três grandes conclusões do festival de 2021: precisamos falar sobre traumas, não existe solução única e é preciso repensar (de vez) a formação para o trabalho.

Precisamos falar sobre traumas

Isso é imperativo. Para voltar à vida normal vamos precisar conversar sobre traumas e resiliência. Todo mundo falou sobre isso, desde a abertura com Oprah Winfrey e o Dr. Bruce Perry, até a conversa de encerramento com a educadora Tinisha Parker e Miguel Cardona, o novo Secretário de Educação dos Estados Unidos.

Para Cardona, não há como falar sobre disciplina nas escolas sem antes considerar que todas a comunidade está machucada. Novas regras e acordos precisarão ser escritos, o tecido social das escolas (e da sociedade) precisará ser refeito antes de falarmos de disciplina. Em sua conversa com Oprah, o Dr. Bruce Perry lembrou que “trauma” não é um fato, e sim a “experiência” depois do fato. Duas pessoas podem passar pelo mesmo fato e saírem de formas diferentes, porque elas trazem vivências diferentes para a mesma situação. 

Tolerância, leveza e espaço para as pessoas falarem sobre seus medos e vulnerabilidade serão muito fundamentais para os novos tempos. “Precisamos ouvir as crianças antes de pensar em currículos”, disse a Dra. Parker. 

One size do not fits all

A frase “one size fits all” (“um tamanho serve para todos”, em tradução literal) pode até funcionar em bonés. Mas não funciona para resolver problemas da sociedade e da educação. Muitas sessões no SXSW EDU se dedicaram a acabar com o mito de que existe uma solução única para resolver problemas complexos.

A questão de equidade foi amplamente discutida sob diversas óticas. É fundamental pensar soluções diferentes para grupos diferentes como forma de garantir a igualdade e promover uma sociedade mais diversa, tolerante e inclusiva. Alguns exemplos:

O painel “LGBTQ-Inclusive Curriculum Mandates: A Discussion” falou sobre como garantir que as contribuições da comunidade LGBTQ+ para a sociedade sejam incluídas no currículo escolar dos Estados Unidos. Atualmente, só cinco estados obrigam isso. Em “Can We Design Bias Out of EdTech?” foi discutido um velho problema, o viés nos algoritmos de inteligência artificial e machine learning, que favorecem homens brancos. Finalmente, em “Educator Leadership for Equity & Justice”, Carlos Moreno e Elisa Villanueva Beard foram precisos ao afirmar que o “sistema de ensino não foi desenhado para mulheres e pessoas de cor estarem um dia na força de trabalho”.

É preciso repensar (de vez) a formação para o trabalho

Considerando as duas lições acima, termino com essa. A maneira como formarmos para o mercado de trabalho precisa ser radicalmente transformada. Para muitas funções, não há mais sentido ficarmos quatro anos na faculdade para conquistar um diploma e aí partirmos para o mercado de trabalho.

Em “How Universities Can Power the Future of Work”, um ponto comum entre as pessoas panelistas foi a necessidade de entender que o trabalho não ocorre da forma que conhecemos e que precisamos tirar a mentalidade de século 19 das universidades. “40% dos empregos devem sumir na pandemia”, disse Paul Leblanc, reitor da Universidade Sudeste de New Hampshire. “Precisamos pensar nos pacotes de habilidades que podem ajudar as pessoas a voltar para o mercado de trabalho e ganhando mais”. Michael Sorrell, reitor da Paul Quinn College, defende que o desafio é montar programas de seis meses, uma forma de micrograduação, para que as pessoas entrem e saiam direto para o trabalho. 

Porém, a falta de trabalho e a substituição por robôs atingirá uma parcela específica da população com mais intensidade. A sessão “Will Robots Displace Workers of Color?” levantou essa questão observando o sul rural dos Estados Unidos e como as pessoas negras e pardas estão desempenhando tarefas repetitivas em trabalhos que serão ocupados por robôs. Como evitar a mudança e o custo da inovação caia nas comunidades frágeis? E como levar novos trabalhos e novas habilidades para essa região?

São problemas que não têm uma resposta simples e nem uma receita de bolo. Seja na escola, na sociedade ou no trabalho, o SXSW Edu mostra que a solução começa em ouvir as pessoas e trazer diferentes pontos de vista para dentro do caldeirão.

Essa diversidade de pessoas e ideias é que leva pra Austin – ou me trouxe a cidade – todos os anos. E é por isso que recomendo muito o festival. Afinal, como vimos na linda sessão em homenagem ao sir Ken Robinson:

“Educação é centrada no conceito de conformidade, mas a humanidade é totalmente construída ao redor da diversidade” – Ken Robinson


*Felipe Menhem é um jornalista que trabalha com educação e aprendizagem há mais de dez anos. Em 2013, fundou a 42formas, onde desenvolve projetos de aprendizagem corporativa para empresas de todos os segmentos e portes. Atualmente, fala sobre habilidades para o futuro do trabalho, cultura de aprendizagem e aprendizagem social.

Quem escreveu

Chicken or Pasta

Data

16 de March, 2021

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    Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.