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Como está sendo retomar a vida em Berlim pós-pandemia

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

01 de June, 2021

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Com o primeiro vislumbre do pós-pandemia chegando a Berlim, a Lalai conta qual é a sensação de retomar o que lembramos de vida normal.

Há duas semanas voltamos a frequentar restaurantes, cafés, bares e biergartens aqui em Berlim, mas tudo a céu aberto. Rolou uma comoção generalizada que tomou conta das ruas, sendo possível sentir uma energia boa depois de muito tempo.

A sexta-feira tão esperada, quando os restaurantes reabriram, não chegou com temperatura agradável, mas ainda assim ninguém se intimidou e as mesas espalhadas pelas calçadas estavam todas lotadas. Fácil conseguir uma mesa para chamar de sua não foi, tanto que eu só consegui uma para o dia seguinte para jantar com mais 4 amigos.

Na sexta, eu me contentei com uma cerveja e um petisco num biergarten antes de entrar num museu depois de muitos meses. A emoção foi tamanha que eu sofri um acidente um pouco feio de bike de tão distraída que eu estava.

O sábado chegou com uma chuva fina, céu cinza e uma temperatura nada atraente nos dizendo: Fiquem em casa! Mas desta vez não obedecemos. Se tem uma coisa que a gente aprende morando aqui é a se vestir adequadamente para dar conta de qualquer tempo e temperatura, então não seria uma chuvinha sem vergonha que nos privaria de finalmente ter um programa diferente para fazer.

Eu sempre gostei muito de frequentar restaurantes. Talvez isso seja um costume que São Paulo nos enfia goela abaixo porque a rua, bem, a rua não é o lugar onde nos sentimos mais seguros. Por isso estamos sempre buscando lugares que nos protejam com suas paredes de concreto ou cercadinhos que nos dão uma falsa sensação de segurança enquanto vivemos em bolhas.

Em Berlim eu tenho aprendido que ocupar a rua é algo extraordinário. Fazer uma marmitinha e procurar um banco esquecido numa calçada qualquer para almoçar enquanto o sol bate na cara é algo que não tem preço. Posso ficar ali à vontade sem me preocupar de que algo possa me acontecer, que alguém vá me importunar ou mesmo que eu corra o risco de ser assaltada. Para mim, esta conquista só não é maior do que ser mulher e me sentir segura numa rua escura e vazia à noite ou quando atravesso um parque muito mal iluminado também tarde da noite.

Mas neste sábado eu queria era sentar num restaurante com meus amigos, comer a comida quentinha vindo direto da cozinha para a minha mesa e tomar um bom vinho sugerido pelo garçom. Era tudo o que eu desejava naquele dia. Eu me arrumei como não me arrumava há um bom tempo. Eu me maquiei e até sombra nos olhos e batom eu passei, algo que anda deixando de ser rotina por aqui.

Voltar ao restaurante no pós-pandemia de Berlim está trazendo sensações conflitantes.
Nosso primeiro jantar fora após a reabertura dos restaurantes em Berlim. Foto Lalai P.

Nosso primeiro jantar, com um pouco de chuva na cabeça, foi comovente. Estávamos todos afoitos falando ao mesmo tempo, rindo alto e mal acreditando que finalmente estávamos comendo num restaurante. Claro que o assunto por um bom tempo foi sobre o ato em si.

Animação em um bar no pós- pandemia em Berlim.
8mm bar na reabertura – Berlim. Foto: Lalai Persson

Depois seguimos para o 8mm, um bar meio punk que sobrevive bravamente em meio à gentrificação acelerada que acontece à sua volta. A calçada estava animada! Poucas mesas e nenhuma disponível, mas a ideia era curtir a vibe de estar num bar com um drink na mão com um banheiro disponível lá dentro se precisasse ir. Era vivenciar este ato tão simples de estar tomando um drink num bar cercado de pessoas.

A noite foi longa, bebemos até mal lembrarmos quem éramos e seguirmos para casa para no dia seguinte mal sabermos como chegamos nela. A lembrança veio em forma de uma ressaca desgraçada, mas que foi aceita com alegria. “Tá tudo bem, há quanto tempo não temos essa oportunidade de encher a cara num bar?”

Foram 7 meses com restaurantes e cafés funcionando só no modo delivery e/ou take away. As lojas e galerias de arte voltaram um pouco antes, mas já com novos protocolos para seguir à risca antes de conseguir atravessar uma porta, mostrando como seria o “novo normal”.

Reabertura dos restaurantes em Berlim pós-pandemia: por enquanto só pode comer em mesas a céu aberto. Foto: Lalai Persson

Para se sentar numa mesa é necessário mostrar um teste de Covid negativo feito no máximo nas últimas 24 horas, que agora são realizados gratuitamente em todos os lugares da cidade. Para onde você olhar tem um, inclusive em cafés, que viraram “postinho de testes”, e em “coronabikes” espalhadas por todas as esquinas e parques. Precisa comprar coisas para a casa? Vai lá, faz teste, espera uns 20 minutos, pega o resultado e vai. Quer almoçar num restaurante? Vai lá, faz o teste e pronto.

Coronabike no parque

É assim que vivemos agora por aqui, com um swab entrando no seu nariz e na sua goela quase todos os dias, a não ser que você esteja devidamente vacinado portando a carteirinha provando a imunização. Feliz estou porque ao lado de casa tem um postinho que faz teste com cuspe, o que ameniza já a irritação nasal que andou ameaçando a aparecer. Máscaras são obrigatórias desde o início da pandemia somente em lugares fechados e transporte público, incluindo as estações.

Atualmente os números de novos infectados caíram drasticamente. Estamos com uma incidência de 32 casos a cada 100 mil habitantes. Mas também estamos testando em massa o tempo todo. A situação finalmente está controlada.

Não foi sempre assim. Os últimos meses foram duros e desoladores com os números que não melhoravam. Mas no dia 30 de maio a incidência bateu 30,8, superando a meta mínima de 36 para poder reabrir a maioria dos lugares. As piscinas públicas também já reabriram, mas só as que ficam a céu aberto. Os próximos a retomarem são as escolas de maneira integral, as universidades, hotéis, academias, salões dos restaurantes e outros lugares que permanecem fechados.

Temos 40% da população de Berlim com pelo menos uma dose da vacina tomada e 16,9% com as duas doses. A vacinação começou bem lenta, mas nas últimas semanas acelerou e hoje a vacina está disponível para toda a população e não mais para grupos específicos. É conseguir agenda em alguma clínica, onde elas são aplicadas, porque aqui só com data e horário marcados.

Os shows já começam a retornar para a agenda, mas ainda não são permitidos, assim como as festas estão proibidas e não há ainda data para o retorno dos clubs que seguem fechados desde março de 2020.

A retomada pós-pandemia não é simples. Nosso psicológico e emocional estão abalados mais do que imaginamos. Muita gente tem sentido pânico de sair de casa, tendo crises de ansiedade ao ver lugares cheios ou mesmo só de saber que a vida do jeito que conhecíamos está voltando, mesmo que diferente do que era.

Ainda assim, é um baita privilégio estar vivendo tudo isso neste momento aqui, tendo de presente um lugar agradável para estar. Olhar para o futuro, e vê-lo de maneira menos ameaçadora, diminui o estado de definhamento que a maioria de nós nos encontramos.

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

01 de June, 2021

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Lalai Persson

Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.

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    Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.