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SIM São Paulo: o SXSW Music brasileiro

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

09 de January, 2020

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A SIM – Semana Internacional de Música – aconteceu em São Paulo de 4 a 8 de dezembro de 2019 com 95 eventos para discutir o futuro da música, 48 palcos, 424 shows de 458 artistas do Brasil e do mundo.

Além dos números da SIM serem impressionantes, o evento também não deixa de impressionar. Além dos números acima, o evento contou com 3.500 pessoas credenciadas e 40 mil circulando pela SIM Noite.

A SIM ganhou um tom político em 2019. O painel sobre novos festivais brasileiros de música, que lotou um auditório e reuniu 10 produtores no palco, causou uma comoção na hora das perguntas e respostas que teve o microfone quase disputado a tapa. Isso só me trouxe uma conclusão: a carência que temos ao acesso a esse tipo de discussão no Brasil. Além das perguntas de praxe sobre como colocar um festival em pé, o microfone serviu também para denunciar a falta de diversidade no próprio palco ou, pior ainda, na liderança de festivais no país, que justamente se refletiu nos participantes do debate que são os líderes dos principais festivais de música do país. Mas não foi só isso. A discussão também trouxe à tona temas urgentes como o aquecimento global ao questionar como o XAMA, festival que aconteceu em Algodões na virada do ano, se prepara para lidar com a questão do óleo derramado no mar brasileiro e como iriam trabalhar com o lixo gerado pelo evento. A resposta do Caio Taborda, um dos produtores, foi o envolvimento que o festival faz anualmente com toda a comunidade em volta.

Entendo a necessidade de dar espaço para todos falarem, mas um dos pontos que me incomodam são as mesas com mais de 5 pessoas (algumas chegam a ter mais de 10). Isso geralmente deixa a discussão muito rasa ao invés de enriquecê-la. Talvez seja a hora de repensar esse formato, aumentar a quantidade de palcos para dar vozes para tanta gente que tem o que dizer. Em algumas ocasiões o tema central a ser discutido ficou em segundo plano ao invés de estar no centro dela. Esse foi um dos pontos salientados pela jornalista e curadora de música Laura Damasceno, que se frustou com a discussão acerca dos 30 anos de Funk no Brasil, uma das mesas mais esperadas por ela que acabou perdendo o fio da meada num assunto tão rico.

Marielle também esteve presente. Seu legado deixado não é pequeno. Princípios básicos como educação, cultura, saúde, segurança e moradia para os periféricos foram o centro da discussão mediada pela Karen Cunha com participação de duas líderes comunitárias, Isa Penna (Ocupação 9 de Julho) e Preta Ferreira (Casa da Dona Jacira). Elas discorreram como é ser mulher negra e ativista de rua dentro de um governo essencialmente branco e masculino. Falarem também sobre a importância de defender os posicionamentos levantados por Marielle Franco para não deixar suas ideias morrerem por conta do racismo e da misoginia, que domina atualmente o país de forma alarmante.

SIM SP 2019 – Mesa Saúde Mental. Foto: Hannah Carvalho / Divulgação

Saúde mental tem sido um assunto bem discutido mundo afora há algum tempo, afinal como conciliar carreira, pressão e expectativas pessoais, viagens constantes, noites mal dormidas quando dormidas, entre outros pontos como até mesmo uso constante de drogas e álcool. Por isso, não foi surpresa ver esse tema na programação da SIM. O debate reuniu a cantora Tiê, Juliana Strassacapa e Mateo Piracés-Ugarte (ambos da banda francisco, el hombre), o produtor Dudu Borges e o psiquiatra Marcelo Altenfelder, que compartilharam suas experiências pessoais e os tratamentos que fazem para se manterem são, como o xamanismo e a alopatia clássica.

Conselho Consultivo SIM São Paulo 2019. Foto: divulgação

Para a produtora e compositora Isabel Nogueira (aka Bel_Medula), que veio de Porto Alegre para conhecer a SIM, a estrutura impressionou. Salientou a importância que a SIM dá para todas as cenas, contemplando não só as consolidadas, mas também a cena independente. Os showcases diurnos também chamaram sua atenção, especialmente por ver tantas mulheres no palco, incluindo muitas mulheres negras. Em alguns painéis que assistiu rolaram comentários sobre o aumento da participação feminina na edição 2019. Não à toa a SIM é um dos festivais que aderiram ao Keychange, plataforma que visa equalizar a paridade de gênero nos festivais de música até 2022, além de ser capitaneada por uma mulher, a Fabiana Batistela.

SIM São Paulo 2019. Foto: Ana Moraes / divulgação

A programação noturna dividiu opiniões. A programação nunca foi tão extensa como esta com vários mini festivais acontecendo ao mesmo tempo dentro do evento. Eu aprovo! Para a Isabel Nogueira foi impossível conciliar a agenda e sentiu o drama dos festivais: ter que escolher. Mas considera importante essa diversidade para que as pessoas possam fazer essas escolhas. Já para a Laura Damasceno, a programação tão ampla a deixou com dúvidas se ter tantas opções é a melhor escolha. German Carmona, ex-gerente de Marketing da Gol, circulou na SIM Noite pela primeira vez. Ele ficou maravilhado com a quantidade e variedade de shows que ofereceram uma experiência única de entrar em uma casa de show, ver uma banda e depois ir para outra e assim por diante ou poder assistir 5 shows no mesmo palco numa noite. Para ele, que afirmou ter visto essa grandeza somente no SXSW, foi impressionante ver vários pontos da cidade abrigando a SIM. São Paulo esteve mais musical do que nunca nesses três dias.

SIM SP 2019 – Jardim Suspenso CCSP. Foto: Hannah Carvalho / Divulgação

Para a Laura Damasceno a cena pop brasileira está cada vez mais forte, especialmente o pop antropofágico com referências brasileiras como o brega e o tropicalismo. Para ela, faz sentido o público estar em busca de mais leveza e algo mais palatável e divertido na hora de escutar o que ouvir, especialmente nesse momento tenso pelo qual o Brasil está passando. Seus destaques foram os mineiros Rosa Neon, uma banda autoral de Belo Horizonte, que ela aposta que irá ganhar a cena nacional em 2020; o Romero Ferro, de Recife; a Luiza e os Alquimistas, que surpreendeu com um show bem acessível bebendo de fontes além do brega, incluindo dub em suas produções e looks super pensados; e a banda de rap, também de Minas Gerais, Hot e Oreia.

A jornalista e produtora Ana Portela é uma grande fã da SIM. Eu a encontrei pelos corredores do evento e a ouvi falar entusiasmadamente sobre a 7ª edição. Para ela, “a relevância do festival está na oportunidade que ele oferece em se conectar com outros profissionais da música de forma mais orgânica e despretensiosa”. Ana emendou dizendo que isso acontece porque “o fator diversidade está no DNA do evento. Se o objetivo é desbravar novos sons, novas regiões e novas cenas, isso acontece naturalmente ao circular pela SIM“. Ela mergulhou nos três de festival e afirmou ter sentido uma “nova frequência nascendo, um espaço mais diverso, colaborativo e aberto, além de ter gostado bastante da riqueza da programação que trouxe uma safra emergente de sonoridades, tendências e regionalidade, combinadas a propostas mais originais com participações e trocas especiais entre artistas nos palcos”. Seus destaques foram a noite Rapport + DoSol + COMA, no Z, que foi do rock ao brega com shows do Disaster Cities e Luísa e os Alquimistas; a noite DOX, no Estúdio Bixiga, com Abacaxepa e Coco de Oyá, que combina tradição e ancestralidade num formato contemporâneo com mulheres de uma potência vocal extraordinária. Em sua conclusão, “a SIM foi um sopro de esperança para os tempos que estamos vivendo, pois mostrou que um momento de crise pode ser também um momento de oportunidades”.

SIM SP 2019 – Jardim Suspenso CCSP (olha o paredão ali atrás). Foto: Rodrigo Gianesi / Divulgação

Eu e a Laura Damasceno lembramos com saudades do lounge da Sympla, que foi um ótimo lugar na edição 2018 para descansar da correria (boa) que a SIM proporciona. Esse ano o único espaço do festival para relaxar era o Jardim Suspenso, que ficou lotado a maior parte do tempo. Aliás, não tem como falar da SIM e não falar do Jardim Suspenso, a laje do CCSP coberta de grama com vista para a 23 de Maio, que a torna uma das áreas abertas de São Paulo mais interessantes. Ali diversos países apresentaram showcases de bandas e estiveram presente para networking. Porém, o espaço pareceu um pouco mais compacto nesta edição. Colocaram uma parede que criou uma divisão entre a área de acesso restrito para quem tinha badge e para quem não tinha. A SIM é um evento bem democrático, mas foi uma pena ver essa parede separando os dois públicos e impossibilitando quem estava atrás de assistir os shows.

Festa de enceramento da SIM São Paulo 2019. Foto: divulgação

O encerramento, como não poderia ser diferente, foi uma grande festa gratuita na Praça da Estação da Luz com o Emicida, Drik Barbosa, Throes e The Shines. Que venha a edição 2020!

Foto destaque: Showcase Jonathan Ferr @ CCSP por Victor Balde / Divulgação

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

09 de January, 2020

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Lalai Persson

Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.

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Comentários

  • Acho que não me apresentei corretamente, me chamo Carlo Bruno, as pessoas me conhecem como Montalvão. Sou manager artístico e trabalho no mercado musical há mais de 23 anos e sei muito bem do que estou falando. Não quis e nem pretendo fazer nenhum tipo de disputa sobre quem foi mais ou menos ao SXSW, muito pelo contrário, minha fala é apenas para esclarecer que há uma certa pretenção no lead desse texto ao comparar uma feira de SETE edições a um evento de mais de 30 anos de existência como o SXSW, que iniciou em 1987 e atrai profissionais do Mercado de todo o mundo, inclusive do Brasil. Participo e continuarei participando de ambos os eventos, porque isso faz parte das prospecções do meu trabalho e dos Artistas que represento. Em 2020, estarei mais uma vez no SXSW, dessa vez com a Glue Trip (que foi selecionada, diga-se de passagem, na primeira leva de Artistas para a próxima edição e com bastante louvor, pois teve seu nome confirmado apenas 10 dias após se inscrever) uma banda excelente da Paraíba e que tem milhares de fãs ao redor do mundo. É óbvio que não interessa aos seus leitores esse tipo de comentário, mas interessa a quem é do Mercado e conhece música e sabe que ela feita, além de estilos e modas, de qualidade artística. Além da Glue Trip, desenvolvo também a carreira de uma banda sergipana que tem já 02 nominações ao Latin Grammy’s, além de ter feito turnês por México, Estados Unidos, Canadá, Itália, França, Suíça e mais de 100 cidades pelo Brasil, tocando nos mais importantes festivais. Ou seja, não comecei ontem. Sei bem do que se trata o mercado musical, trabalho nele há anos! Portanto, me sinto confortável para afirmar que o SXSW é incomparável em todos os termos e aspectos. Sei que o mesmo, assim como o Coachella e o Primavera Sound – entre outros festivais – é um fetiche na cabeça de “curadores”, “influencers” e/ou simplesmente o público moderninho que domina os rolês paulistanos e de outros lugares do nosso Brasil. Conheço profundamente o mercado musical e sei que no Brasil as coisas são medidas de forma errada, todo mundo querendo seu “biscoitinho diário” para satisfazer o ego. Não dou biscoito, sou contra isso! Nessa edição da SIM, realizei um mini-festival da minha produtora no Jazz Nos Fundos, com a presença de Oito bandas de rock, se revezando em dois palcos, e foi um dos eventos de maior sucesso dessa edição. Isso não sou eu quem estou dizendo, as pessoas que foram é que dizem! Na platéia estava o diretor artístico e principal curador de música do SXSW, além dele representantes de festivais no Canadá, Uganda, Argentina, Brasil, Estados Unidos, Itália, Inglaterra etc. Todos saíram felizes, abismados e radiantes com o que viram. Volto a afirmar, não trabalho com “moda”, trabalho com música e artistas de qualidade. Portanto, além de público consumidor, também participei da SIM como promotor cultural de relevância internacional incontestável. Gostem ou não. Já realizei incontáveis shows, eventos, já participei de praticamente todos os festivais do Brasil. Já realizei turnês nos Estados Unidos, Canadá, México, Marrocos, França, Espanha, Argentina, Chile, Suíça, Alemanha, e em todo o Brasil. Acho que posso sim comentar sobre um evento com a SIM e acho que posso sim dizer que o mesmo é feito para atender um pequeno grupo de pessoas, realizadores culturais que fazem parte de um joguete que é o mercado musical do Brasil, incipiente na maioria dos casos, refém de uma política cultural consistente e de projeção global. Vivemos de “cases”, de “modinhas”… não vou nem me aprofundar muito para não estragar mais “o sonho brasileiro”. Espero que não tenha sido ofensivo, pois de forma alguma, essa é a minha intenção. Espero que não tenha causado mau-estar algum, mas tem verdades que precisam ser ditas e coisas que precisam estar mais claras, senão viveremos aceitando um “biscoitinho” para satisfazer o ego, ao invés de recebermos em troca o que nos é de direito. Ademais, parabéns por sua matéria!

    - Carlo Bruno Rocha Montalvão
    • Oi Carlo, obrigada pela resposta e esclarecimento. Concordo com você em vários pontos. Aliás, está indo nesta edição? Quem sabe nos encontramos por lá? :)

      - Lalai Persson
  • Com todo o respeito aos entrevistados e ao seu bonito texto, mas a SIM São Paulo, NÃO CHEGA nem a 20% do que é o SXSW. Falta muita coisa para isso acontecer ainda. Já estive 3x no SXSW (dei palestra lá inclusive), já participei de mais de 6 edições da SIM São Paulo e sei muito bem que o evento brasileiro é bom, mas é regido por uma panela restrita, que ajuda poucos.

    - Carlo Bruno Rocha Montalvão
    • oi Carlos, entendo sua colocação, mas a vibe da SIM Noite desse ano me remeteu um pouco ao SXSW Music (apesar que nem foi a minha fala no texto mesmo concordando com ela). Eu frequento o SXSW desde 2010 e quando penso nas primeiras edições que fui, eu não acho que é muito diferente do que a SIM é no momento. Pode até ser que há 10 anos o SXSW já tivesse uma programação com mais casas participantes, mas era um número muito inferios ao atual (até porque mais da metade dos lugares onde o SXSW acontece atualmente sequer existiam). Não entrei no mérito da escolha das bandas, mas tem chamado aberto e vejo uma diversidade muito grande no line-up, especialmente a desse ano. Não faço parte da SIM, mas admiro o evento e acredito que ele tem um potencial gigante de virar uma referência mundial.

      - Lalai Persson
      • (mas falo somente da parte de música, viu?)

        - Lalai Persson

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