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O que aprendemos no Festival Path: um olhar para alma

Quem escreveu

Chicken or Pasta

Data

10 de June, 2019

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Apresentado por

O festival Path é uma experiência que fomenta ideias, conexões e ações. Muitos vão para ficar por dentro das tendências e movimentos futurísticos. Quando se fala em futuro, quais as primeiras palavras vêm à mente? Arrisco dizer que são tecnologia, inteligência artificial, realidade virtual, Big Data, por exemplo. Foi isso que tratamos no nosso último texto de aprendizados.

Mas uma das coisas que mais surpreendem nos festivais de inovação e criatividade – e no Path desse ano não foi diferente – é a grande procura por temas ligados ao comportamento humano e ao autoconhecimento. Não basta ser high tech, é preciso ser high touch.

Path. Fotógrafa Samy

Em um mundo hiper conectado, em que tudo é instantâneo e temos muitas facilidades, soa contraditório o fato de que falamos e ouvimos, diariamente, sobre nossa falta de tempo. Falta de tempo para dar conta do imenso volume de trabalho, que supostamente diminuiria com as facilidades trazidas pelas tecnologias. Falta de tempo para ver e conversar com família e amigos, para preparar nossa própria comida, para se exercitar, etc. Eu poderia citar inúmeros outros exemplos de como não temos tempo para fazer coisas que se tornaram mais fáceis pelas ferramentas que a vida contemporânea nos oferece.

Essa dicotomia entre as maravilhas da inovação e as dores de estarmos tão sobrecarregados de informação e de novos formatos de consumo é o que leva à crescente procura por temas muito mais sutis, não diretamente ligados ao futuro, mas que resgatam algo mais sensível: a essência do ser humano.

Muitos estudos científicos mostram que ter bem-estar e uma vida motivada nos leva a ter mais produtividade e criatividade, aumenta a imunidade e a longevidade. O mercado de trabalho está atento a esses fatores, por isso a busca crescente por mudanças na cultura organizacional das empresas, com o objetivo de satisfazer cada vez mais as necessidades de seus colaboradores.

Na palestra “A verdadeira inovação está na autenticidade”, com auditório do Hotel Tivoli lotado, Mariana Ferrão trouxe a questão: como ser eu mesmo? Somos um acumulado de experiências construídas por direcionamentos muitas vezes distintos de nossa essência, pois nos tornamos o que as outras pessoas esperam.

Path. Fotógrafa Samy

Pensar fora da caixa e ser autêntico não é uma tarefa simples. Exige uma busca profunda de nossa verdadeira essência, a começar pela pergunta, aparentemente banal, mas não tão fácil de responder: quem sou eu? Diante de tantos avanços tecnológicos na área de saúde e bem-estar, é interessante pensar que nenhuma ferramenta é mais poderosa do que parar, respirar e estar presente e consciente sobre o que somos, onde estamos e para onde queremos realmente ir.

Diferente das gerações mais conservadoras de nossos pais e avós, que buscavam estabilidade profissional e financeira, a busca da realização de sonhos tem sido a força motriz das gerações subsequentes. Em sua palestra “Poesia das coisas – ressignificando o ter”, Camila Lordelo trouxe toda inquietação que a levou largar sua carreira de publicitária para fazer o que mais sabia e amava fazer: escrever poesias. Assim nasceu a Eulíricas.

Path. Fotógrafa Samy

“A natureza das coisas sempre me interessou mais que as próprias coisas. é assim que construímos diariamente a Eulíricas, esse pequeno mundo onde o sentir humano é o laço, onde a expressão é a causa, onde o amor é a permanente consequência.” Ao longo de cinco anos como empreendedora, Camila aprendeu muito sobre emoção, sobre a crescente “humanização das coisas e coisificação do homem” – citando Manoel de Barros.

Mais uma vez no festival, apareceu aqui a investigação sobre as reais necessidades humanas. Interessante a reflexão de que estamos constantemente alimentando nossos desejos de consumo mais que nossas necessidades. Fica a inquietação: “O que buscamos quando buscamos?” Não sem motivo, de acordo com o Google Trends, nos últimos cinco anos, sextuplicou a busca por “ansiedade”. Por isso, Camila afirma que o maior questionamento da atualidade não é sobre ter, mas sobre ser.

Path. Fotógrafa Samy

Uma palestra bastante inspiradora foi “A arte do Brasil profundo”. Em um formato bastante criativo, Renan Quevedo fez um bate-papo amarrado suas histórias de viagens pelo país, as histórias dos artistas populares que encontrou por suas andanças e trechos de Guimarães Rosa. Lembrando que ele já escreveu aqui no blog sobre 13 lugares que não conhecíamos.

Renan largou a carreira de diretor de arte em uma agência de publicidade e passou a viajar o país em busca de conhecer melhor a Arte Popular Brasileira. Hoje, depois dos 210 dias em que rodou mais de 100.000 km e contou 300 histórias, Renan luta por catalogar a herança da cultura popular e dar visibilidade a pessoas, muitas vezes anônimas. Disso nasceu projeto o “Novos para Nós”.

Em uma forma emocionante de narrar seu trabalho, com lágrimas e palavras de encantamento, intercaladas com frases de ‘Grande Sertão: Veredas’, Renan chama atenção para as vezes que sentiu seus olhos brilharem de emoção e encantamento pela descoberta de um mundo chamado “arte popular brasileira”.

O maior insight dessa palestra foi perceber que pouco ou nunca paramos para ouvir pessoas, sobretudo aquelas que não fazem parte do que é de valor para nosso trabalho e outros interesses pessoais. Quanto sabemos da vida de pessoas que estão conosco no dia a dia, como porteiros ou a diarista? Mais que isso, quanto sabemos dos sentimentos e angústias dessas pessoas? Com certeza, muito perdemos com a riqueza oculta em cada na alma, de cada um dos seres humanos que passam no anonimato de nossas andanças.

E sobre largar tudo e ir viver aquilo que realmente estava ligado ao seu sonho, Renan termina com a frase de Rosa: “amor é a gente querendo achar o que é da gente”. Isso poderia resumir o conceito de uma das palavras que mais ouvimos no universo do empreendedorismo: propósito.

Path. Fotógrafa Samy

Esse foi o tema da palestra de Leonardo Senra, sócio-diretor Executivo da Agência Ana Couto, “O sucesso do bem: modelos de negócio a partir do propósito”. Atualmente, fala-se muito de propósito das empresas, mas o caminho percorrido por quem realmente consegue colocá-lo em prática para deixar um legado, com responsabilidade social e relevância cultural, não pode estar apenas no marketing. É fundamental desenvolver e praticar a empatia, fazer mais que falar, para o que o valor real de sua marca seja verdadeiro e coerente.

Na palestra “Precisamos falar do humano”, Paulo Lima, Sócio-fundador da revista Trip e publisher da Trip Editora, afirmou que o que há de mais valioso na atualidade é o olhar humano para as marcas. Para ele, o que a TRIP mais sabe fazer é prestar atenção em gente: “Estudamos com muito prazer e curiosidade o que é ser gente. Focamos muito em estudos de antropologia, sociologia e psicologia para pesquisar o drama da existência humana, pois a matéria-prima da revista são as verdades, as reais necessidades e angústias da humanidade.”

Também ressaltou que escuta atenta e empatia são habilidades cada vez mais valorizadas e é um grande desafio desenvolvê-las. Para finalizar, Paulo destacou que humanização não é mais uma escolha: ou as empresas fazem isso, ou ela vai ter a cara de estatísticas e ficar no mundo virtual, artificial.

Em um festival cheio de profissionais de marketing, publicitários, designers, criativos, etc, é perceptível que cada vez mais há uma necessidade de se desconectar do imaterial, se conectar mais com o eu e com aqueles que estão à nossa volta. O resgate do “ser humano” não é apenas uma preocupação ligada a um lifestyle de quem busca autoconhecimento, é um exercício e uma habilidade crucial para quem quer ver mais significado naquilo que faz e, mais importante, indispensável para mudarmos o mundo com o qual andamos tão descontentes.

Texto: Renata Cabrera de Morais Renata vive em um contínuo processo de aprendizagem na escola da vida. Formada em relações internacionais pela USP, desistiu do sonho de se tornar diplomata para ser livre e ter uma carreira sem nome.
Atualmente é designer de experiências na Mandalah e responsável pela Wake – Festa Matinal.

Foto destaque: Samy

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Chicken or Pasta

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10 de June, 2019

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