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Ushuaia: a gélida Terra do Fogo

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

15 de August, 2018

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Se engana quem pensa que o fim do mundo é um lugar feio. Ushuaia, a cidade mais austral do planeta, esbanja beleza por todos os seus lados.

Sua história data de mais de onze mil anos, quando os primeiros desbravadores chegaram em Ilha Grande, a cerca de 200km ao norte de Ushuaia. Nômades vieram, nômades se foram, até os europeus desembarcarem em 1520 numa expedição ao sul da América do Sul, rendendo as primeiras descrições sobre a Terra do Fogo. Porém, Ushuaia foi fundada mesmo só em 12 de outubro de 1884, sobre as costas do Canal de Beagle, onde é rodeada pela Cordilheira dos Andes e belos vales glaciais. Conseguiu imaginar um lugar bonito? Pois ele é mesmo.

Bahia de Beagle, Ushuaia, vista do hotel Arakur. Foto: Lalai Persson
Canal de Beagle, Ushuaia, vista do hotel Arakur. Foto: Lalai Persson

Ushuaia é a cidade mais fria da Argentina. No verão, a temperatura média é de 10ºC. O recorde foi 24ºC num verão atípico. Atrações existem em qualquer época do ano, mas um local me garantiu: o outono é a época mais bonita, enquanto o verão é a mais cheia, quando centenas de barcos rumo à Antártida atracam por ali, e os dias são mais longos. Novembro e dezembro são meses chuvosos. Na minha estadia no inverno, a temperatura oscilou entre -5ºC e 1ºC, num dia bem ameno.

Desembarquei com bastante expectativa por lá no anoitecer de uma quarta-feira bem gelada e úmida. Na mala iam planos para esquiar, para tocar num after-ski no Cerro Castor e num happy hour no Arakur – hotel onde passei cinco dias encantadores – e claro, para relaxar.

Um pôr-do-sol de tirar o fôlego rolou próximo à minha chegada em Ushuaia. Foto: Lalai Persson

Um pôr-do-sol de tirar o fôlego me recebeu enquanto nos aproximávamos de Ushuaia, mas já tinha baixado o suficiente quando finalmente pousamos na cidade. Meia-hora nos separavam do hotel. Uma chuva fina e gelada caía, o que impediu que contemplássemos a cidade pela janela do táxi. O jeito foi esperar pelo dia seguinte para dar uma volta na cidade, que deixou todos os encantos por conta da natureza local. Centro pequeno com casinhas de madeira colorida, mas sem muita beleza. Três ruas principais, uma delas lotada de comércio local, que funciona algumas horas por dia (fecha ao meio-dia e só reabre às 16h e vai até a noite) e vende tudo com tax free. Ushuaia é a Manaus da Argentina. Lá tudo é livre de imposto, mas locais garantem que vantagem mesmo é na compra de vinhos e o que for de produção local. Xeretei as araras de uma loja de artigos esportivos. Os preços eram bem melhores do que em São Paulo, mas ainda assim caros.

Eu tomando um café no Café Austral Modern, no centro de Ushuaia. Foto: Ola Persson
Eu tomando um café no Café Austral Modern, no centro de Ushuaia. Foto: Ola Persson

Mas, apesar de Ushuaia ser um vilarejo desprovido de charme, o objetivo de quem vai para lá é se aventurar na natureza. No inverno, época em que fui, além de ter o Cerro Castor para uma ótima temporada de esqui (é uma ótima estação para iniciantes, o que eu vou contar em um outro post), as agências locais oferecem diversos passeios para conhecer os encantos do fim do mundo. E eles não são poucos. É  também em Ushuaia que a temporada de esqui vai mais longe na América do Sul, geralmente até o fim de setembro (esse ano vai até dia 30.09, corre que ainda dá tempo).

É possível fazer atividades invernais como passear de trenó com cachorros, fazer cross-country (mais antigo que o esqui, no cross-country você esquia por lugares planos… é, numa explicação muito barata, fazer longas caminhadas com um esqui mais estreito nos pés), visitar o Parque Nacional Tierra del Fuego, canoagem, passeios em triciclos pela neve, passeios de helicóptero, navegar pelo Canal Beagle, entre outras opções, incluindo esquiar.

Eu perdendo o medo do esqui em Cerro Castor (na pista das crianças). Foto: Ola Persson
Eu perdendo o medo do esqui em Cerro Castor (na pista das crianças). Foto: Ola Persson

Eu fiquei 5 noites em Ushuaia e foi difícil escolher o que fazer. Queria esquiar o máximo que desse, mas também queria conhecer um pouco a região e relaxar pelo menos um dia no Arakur. O hotel é muito grandioso para não aproveitá-lo. Cogitei o passeio pelo canal, pois queria muito ver pinguim (quem não quer?), mas nessa época do ano é difícil encontrá-los. Então, optei em fazer um passeio de 4×4 para conhecer o Lago Escondido e o Lago Fagnano. Escolha mais do que acertada.

Eu dando uma relaxada na ótima piscina do Arakur com essa vista de cair o queixo. Foto: Ola Persson
Eu dando uma relaxada na ótima piscina do Arakur com essa vista de cair o queixo. Foto: Ola Persson

Fizemos o passeio com a Tour by Design. O nosso guia, Sebastian, nos pegou às 9h da manhã no hotel e seguimos rumo ao norte da Tierra del Fuego na Ruta Nacional 3. Uma das coisas que eu gostei bastante no passeio foi o empenho do Sebastian em nos contextualizar sobre esta inóspita região no extremo sul da Argentina, e não somente sobre Ushuaia. A conversa com ele rolou solta do início ao fim do passeio. Tivemos uma rápida introdução sobre as duas montanhas mais famosas de Ushuaia, o Monte Olivia e Cinco Irmãos. Eu já tinha babado um bocado na primeira, pois ela impera absoluta no caminho entre Ushuaia e Cerro Castor, com seus 1.326m de altitude, com o Monte Cinco Irmãos atrás. O Monte Olivia é a montanha mais alta do fim do mundo, ou seja, as montanhas por lá não são tão altas, mas mesmo assim elas são imponentes.

Monte Olivia reinando absoluto atrás do Arakur Ushuaia. Foto: Divulgação Arakur
Monte Olivia reinando absoluto atrás do Arakur Ushuaia. Foto: Divulgação Arakur
Nosso guia Sebastian, do Tours by Design. Foto: Ola Persson
Nosso guia Sebastian, do Tours by Design. Foto: Ola Persson

Começamos o passeio num mirante logo na saída de Ushuaia, onde pudemos ver o sol nascendo atrás de uma cadeia de montanhas cobertas de neve. Fotos, escorregada na escadinha de madeira, e “uaus” com a vista exuberante à nossa frente. Ter o sol nascendo às 9h30 da manhã foi bônus para aqueles que, como eu, acordam tarde. Dali também foi possível avistar glaciais formados em algumas montanhas. No verão é possível fazer caminhadas nesta área.

Centro Invernal Tierra Mayor. Foto: Ola Persson
Centro Invernal Tierra Mayor. Foto: Ola Persson
A área congelada em frente ao centro invernal, de onde saem os passeios. Foto: Lalai Persson
A área congelada em frente ao centro invernal, de onde saem os passeios. Foto: Lalai Persson

Visitamos um centro invernal, uma antiga casa de madeira aquecida à moda antiga, ou seja, com lareira. A fumaça branca que sai se funde com a paisagem tornando tudo uma coisa só. Vimos uma equipe brasileira (de cross country talvez) que se reunia para treinar. Ali é possível alugar equipamentos, moto de neve, trenó, roupas e também contratar aulas de esqui. Tomamos um café quentinho, vimos fotos de antigos desbravadores da neve, esportistas e locais. Uma belezura pra quem ama ver foto antiga. Demos um tempinho ali para aquecer e esperar a neblina se dissipar um pouco, permitindo que a gente pudesse ver o Lago Escondido.

O lindo Lago Escondido. Foto: Ola Persson
O lindo Lago Escondido. Foto: Ola Persson
A floresta que atravessamos pra chegar no Lago Fagnano. Foto: Ola Persson
A floresta que atravessamos pra chegar no Lago Fagnano. Foto: Ola Persson
A estrada "fácil" pra chegar no Lago Fagnano. Ou é 4x4 ou é 4x4. Foto: Ola Persson
A estrada “fácil” pra chegar no Lago Fagnano. Ou é 4×4 ou é 4×4. Foto: Ola Persson

A real é que a gente teve muita sorte com o tempo. Estava um frio do cão, mas não ventava e muito menos nevava, o que aconteceria dias seguidos a partir do dia seguinte. Uma das paisagens mais lindas do passeio foi o tal Lago Escondido que, de fato, estava coberto por uma bruma espessa permitindo ver apenas uma parte dele, que reluzia com o reflexo da luz do sol. Com a neblina se dissipando deu para ver também o Lago Fagnano, um dos maiores da América do Sul, com mais de 100 quilômetros de extensão. A surpresa estava por vir, pois saímos da estrada e entramos numa floresta coberta de neve, onde o nosso 4×4 mostrou toda a sua potência e sacolejo. Sebastian nos contou um pouco sobre a floresta e as árvores derrubadas, todas elas pelos fortes ventos que têm na região. É impressionante, pois metade da floresta está no chão. Estacionamos, fizemos uma boa caminhada pela neve para então chegar à beira do Lago Fagnano. Entre suspiros, fomos agraciados com um chá quentinho enquanto o Sebastian abria um mapa para mostrar onde estávamos.

No meio da caminhada com o Lago Fagnano ao lado. Foto: Ola Persson
No meio da caminhada com o Lago Fagnano ao lado. Foto: Ola Persson

Depois dirigimos até a praia de pedras que se forma na margem oposta do lago em que estávamos. Ficamos ali um tempo imersos num silêncio absurdo. É tão difícil alcançarmos lugares onde o silêncio impera, que chega a emocionar.

A praia à beira do Lago Fagnano. Foto: Ola Persson
A praia à beira do Lago Fagnano. Foto: Ola Persson
A nossa última parada para nos esbaldarmos com uma parrilla. Foto: Ola Persson
A nossa última parada para nos esbaldarmos com uma parrilla. Foto: Ola Persson

Já na estrada paramos num outro centro invernal, onde almoçamos um cordeiro na parrilla em meio a famílias locais cercadas de crianças que celebravam o domingo. Retornamos para Ushuaia passando pelo Lago Escondido, que a essa hora mostrava todo seu esplendor sem uma névoa sequer próximo a ele.

Para quem ainda não conseguiu dimensionar a beleza de Ushuaia, a dica é assistir (ok, o filme é chato) “O Regresso”, com Leonardo di Caprio. Apesar da história se passar no Canadá, ela teve algumas das cenas mais dramáticas gravadas no fim do mundo. Depois soube que a agência com a qual fiz meu passeio 4×4 foi a responsável pela produção local.

Essa locação de “O Regresso” é bem pertinho de Ushuaia, onde vi o sol nascer.

Ushuaia foi uma grata surpresa. Eu já imaginava a beleza que a cercava, mas ver de perto e se dar conta do pontinho do mapa onde estamos, é gratificante.

Dois lugares para conhecer no centrinho de Ushuaia

Almacén Ramos Generale. Foto: Lalai Persson
Almacén Ramos Generale. Foto: Lalai Persson

O Almacén Ramos Generales esbanja charme. O lugar é uma mistura de restaurante, padaria, doceria, vinoteca e museu. Decorado cuidadosamente com muitos objetos antigos e com muito bom humor, tem serviço atencioso e preços bem acessíveis. O Ramos Generales acabou sendo um dos cantos que o Leo (meu amigo Di Caprio) foi jantar com mãe durante sua estadia na cidade. Agora já sabemos que ele tem bom gosto. Maipú, 749, Ushuaia. Tel: (54)2901-42317.

O café Austral Modern tem decoração minimalista com grande influência escandinava. É super fofo, aconchegante, serve um ótimo expresso e tem uma ótima trilha sonora. Além do café e doces, o Austral tem também produtos à venda, incluindo a famosa mochila sueca Fjallraven Kanken. 9 de Julio, 74, Ushuaia.

*Eu viajei a convite do Arakur Ushuaia, Turismo Tierra del Fuego e da estação de esqui Cerro Castor. Agradeço imensamente a Press Pod por ter possibilitado a nossa aventura e, principalmente, por ter atiçado essa vontade louca de ir pra lá. Nos próximos dois próximos posts contarei sobre o Arakur (que lugar, viu?) e sobre como é esquiar no Cerro Castor. :)

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

15 de August, 2018

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Lalai Persson

Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.

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Comentários

  • Prezados produtores, parabéns pela bela reportagem.
    Contudo, alerto que a fotografia da chegada, de dentro do avião, contém a seguinte frase:
    “Um pôr-do-sol pornográfico rolou próximo à minha chegada em Ushuaia.”

    - Fábio

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