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Festival YAGA, uma verdadeira plataforma de resistência, traz SOPHIE e Arca ao Brasil

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

30 de October, 2018

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Quando vi a primeira chamada para o YAGA no Facebook, meus olhos brilharam por ver nele artistas que não imaginei que tocariam por aqui tão cedo, especialmente num evento white label. Arca, SOPHIE, Total FreedomJuliana Huxtable num mesmo line-up foi de encher o coração de alegria. Fui atrás pra saber quem era o responsável por tanta ousadia!

SOPHIE E ARCA. Divulgação

Os dois idealizadores do festival, a brasileira Sophie Secaf e o americano Kevin McGarry, não vivem em São Paulo e nem mesmo no Brasil. Ambos moram nos Estados Unidos. Isso atiçou ainda mais a minha curiosidade de como foi conceber um festival tão peculiar, mas que parece ter sido pensado exatamente para os tempos que vivemos. Entenderam totalmente o zeitgeist ao elaborarem um line-up tão diversificado e contemporâneo (e tão necessário para os tempos sombrios que estamos vivendo no Brasil).

Arca é o alterego do artista e produtor venezuelano Alejandro Ghersi que, aos 24 anos, já estava produzindo com a Björk (que foi sua grande madrinha depois de tê-lo convidado para ser DJ em suas apresentações do álbum Vulnicura, no qual Arca fez significantes colaborações), Kanye West, Kelela, Frank Ocean e FKA Twigs. Sua música é experimental e contemporânea, uma verdadeira performance sonora. Nela ele explora sua homossexualidade, gênero e moda. Arca já tem três álbuns lançados desde que começou sua carreira e todos entraram em várias listas de melhores álbuns do ano. É daqueles shows que não dá para perder de jeito nenhum.

Já a SOPHIE juntou o pop e o hip-hop com a música de vanguarda de um jeito que poucos conseguem fazer. Ela consegue transitar nos dois universos, o pop e o underground, numa maestria de tirar o chapéu. Não demorou para ela ter seu trabalho reconhecido e ser chamada para produzir para Nicki Minaj, Charli XCX e Vince Staples, além de ter trabalhos produzidos em parceria com o Diplo, como a co-produção que fez para o single “Bitch I’m Madonna”. Ela lançou seu primeiro álbum “Oil of Every Pearl’s Un-Insides” em junho passado. Vale a pena dar um play nele.

A poeta, artista visual, performer e DJ, Juliana Huxtable, de Nova York, também merece bastante atenção. É trans, ativista, já teve trabalhos expostos no New Museum, Frieze London, Guggenheim e em várias galerias renomadas de arte, foi estrela da campanha Kenzo para H&M e fez um remix maravilhoso “Liosong“, da Björk.

O quarto artista internacional é o DJ Total Freedom, também de Nova York. O line-up nacional está também à altura dos convidados internacionais. Serão 14 artistas que estão fazendo e acontecendo na cena underground por aqui: Linn da Quebrada, BADSISTA, Angela Carneosso, Cem Freio, Luisa Puterman, Stroka, FCKOFF1963, Pining & DJ Whey, ALADA, Sijeh, Onírica, Aretha Sadick, LV1SL1S e a Mia Badgyal. Claro que um festival como esse não deixaria de fora uma cena que cresce cada vez mais, a da performance. Participam Valentina Luz, Rafael Holland, Bianca DellaFancy e a Euvira.

Bati um papo rápido com a Sophie e o Kevin para saber um pouco mais como o YAGA foi concebido. Na entrevista fica bem claro o quanto o YAGA é realmente contemporâneo ao que estamos vivendo no Brasil (e no mundo). Ele quer ser um lugar de expressão contra este medo e insegurança que muitas pessoas estão sentindo sobre o futuro, afinal a música e a arte são também uma plataforma política e de diálogo. Vendo o resultado das eleições e o que isso tem acarretado de sentimento, o YAGA se traduz num palco de resistência, um lugar pra gente dar a mão, celebrar e respeitar as diferenças, e mostrar que somos fortes e iguais.

Como surgiu a ideia de criar o YAGA?
YAGA: Nós dois moramos nos EUA e a Sophie é brasileira. O Kevin está próximo de muitos artistas que admiramos e consideramos super inovadores. Tudo começou quando percebemos que esses artistas extremamente influentes, que são os principais representantes de subculturas nos EUA e na Europa, tinham um grande número de seguidores e fãs no Brasil, mas nunca foram trazidos ao país por festivais ou marcas porque são considerados “underground demais para o Brasil”. Para nós, eles estavam moldando a cultura numa forma super inspiradora, mas continuamos ouvindo que eles eram nichados demais para São Paulo. Nós não apenas discordamos, como decidimos romper com esse preconceito. Achamos que esta é uma época em que correr riscos é essencial, especialmente no que diz respeito à cena underground e aos movimentos de resistência. Quando contamos aos artistas internacionais sobre o poderoso momento atual na vida noturna da música brasileira, todos responderam: “Uau, eu quero ir para o Brasil”. Então decidimos fazer nascer essa troca internacional de subculturas  através da YAGA. Nós queríamos que as pessoas aqui conhecessem a genialidade dos artistas internacionais e queríamos que eles também conheçam todos os artistas brasileiros incríveis que estão moldando a cena underground do Brasil.

O que os motivou a criar um festival de música em São Paulo?
YAGA: Sophie é paulista e Kevin é obcecado por São Paulo. Nós dois amamos a cidade, vivemos e trabalhamos nos Estados Unidos, e sentimos que poderíamos trazer algo único para São Paulo que não havia sido feito antes. Sair à noite em São Paulo é uma forma de arte, pode ser quase espiritual e é definitivamente política, então nós a consideramos a melhor cidade para lançar o YAGA. Além disso, foi fácil conseguir que os músicos mais visionários do mundo viessem ao Brasil. :)

Vocês estão nos Estados Unidos, como foi criar o festival à distância?
Certos aspectos práticos foram, naturalmente, um desafio, mas fizemos viagens a São Paulo enquanto planejávamos, e contamos com uma equipe local incrível. A parte legal sobre isso é que o YAGA deixou de ser apenas nosso. Não queríamos que o YAGA tivesse uma distância entre creators, colaboradores e artistas. Em vez disso, vimos nossa distância como uma boa oportunidade para criar um genuíno ‘movimento de base’, pedindo aos nossos representantes locais para abraçarem o YAGA como se fosse deles e ter uma conexão muito próxima com artistas e comunidades locais. Nossos parceiros lideraram o processo de encontro com artistas, coletivos, líderes comunitários e discutiram todas as ideias e questões com eles, incluindo-os ativamente no processo criativo. Temos recebido ótimos comentários deles sobre isso. Queremos que o YAGA seja uma resposta de uma visão que co-criamos com os artistas, onde eles sentem que o YAGA também é deles e reflita também os seus valores. É por isso que ouvi-los primeiro e incluí-los no processo para nós não foi apenas essencial, mas também ajudou a minimizar a lacuna de estarmos no exterior. Por outro lado, tem sido estranho manter-se distante da situação política em rápida evolução no Brasil, mas é interessante refletir sobre o que está acontecendo nos EUA, onde uma sequência semelhante de eventos ocorreu há apenas dois anos.

Tem alguém assessorando vocês aqui no Brasil?
O conceito e o sentimento geral do festival vêm de nós mesmos, mas reunimos uma incrível equipe de pessoas extremamente conectadas com a vida noturna e o momento festeiro de SP. O YAGA definitivamente não seria o YAGA se não fosse por eles. Arthur Boeira é a nossa principal conexão em SP. Ele tem liderado a conversa com festas, coletivos e artistas em todo o Brasil durante todo o ano para entender como um festival pode trabalhar para apoiar tudo o que já está acontecendo organicamente. Também consultamos diretamente os coletivos, como Coletividade Námíbìa, Tormenta e Marsha Trans, para entender o que sentiam falta em festivais e cenas de festas e como poderíamos capacitá-los através do YAGA e, finalmente, fazer a diferença. Para nós, foi muito importante ouvir e aprender primeiro e depois executar o projeto. Como mencionado anteriormente, queremos que as pessoas se apropriem do YAGA, não queremos que ela seja vista apenas como nossa ou como uma marca distanciada. Para fazer isso, é essencial entender o que os festivais podem fazer por artistas e comunidades, e não o contrário.

O line-up é bem peculiar e ousado. Nele há especialmente mulheres e trans. Como foi feita essa escolha?
O desenvolvimento paralelo da programação começou com a oportunidade que vimos para trazer um grupo de artistas internacionais – Arca, SOPHIE e Juliana Huxtable – ao Brasil pela primeira vez (e Total Freedom, que já tocou em São Paulo antes), e tocar com os artistas que estão fazendo trabalhos similares no Brasil. Quando conversamos pela primeira vez com o Arca, ele nos contou como está super animado em tocar com a Linn da Quebrada. É um pequeno milagre que todos tenham dito sim, o que para nós representa a unidade natural de sentimento que a formação transmite. Nunca houve uma missão explícita de se concentrar em artistas trans versus artistas cis, ou desejo de chamar o YAGA de um festival queer, mesmo que a maioria dos artistas seja queer, nós mesmos sejamos queer, e tudo sobre o YAGA seja queer. Estamos contentes por você achar a programação ousada. Nós sentimos que é oportuno e que este é um momento em que correr riscos é essencial. É hora de defender as pessoas e o que você acredita. É importante para nós ter feito nossas escolhas de programação sem seguir um dogma ou lógica sobre o que é o YAGA ou como ele deve ser rotulado com base no que os artistas participam. Os artistas no coração do line-up são heróis subterrâneos que tocam muitas cenas, comunidades, lugares, gêneros. Nosso trabalho é juntá-los e ver o que acontece.

Vocês tiveram alguma consultoria para elaborar o line-up?
Não formalmente. Como mencionamos, Arthur Boeria esteve envolvido a cada passo, do debate de idéias a convidar os artistas de todos os lados de São Paulo e do Brasil. Seu papel foi vital para nós, já que não estamos morando no país e, portanto, não podemos acompanhar os movimentos culturais aqui como ele pode. Nossa conexão com ele foi instantânea, ele amou nossas ideias e sempre gostamos do ponto de vista dele. Muitos dos artistas da YAGA trabalham juntos, sejam informações ou através de coletivos. Nós estamos realmente nos esforçamos para não criar apenas um showcase para a música mais excitantes do momento, mas para trabalhar com grupos criando uma plataforma que eleve as redes criativas que já existem no Brasil e ao redor do mundo, ou tenha o potencial de ganhar vida, mas ainda não tenha encontrado os recursos ou a oportunidade de se encontrar no mesmo lugar ao mesmo tempo. Este é o nosso principal objetivo, criar algo onde possamos mostrar o trabalho de artistas em que acreditamos, e capacitar artistas emergentes tendo isso como uma plataforma para mostrar seus trabalhos para um público maior e internacional.

Quais são as expectativas para o festival?
Honestamente, neste momento, é tão intenso imaginar como será o festival. Não importa o que aconteça nas eleições, esperamos que o YAGA seja uma espécie de catarse coletiva. Tem sido interessante ver o público se conectar ao YAGA como uma forma de resistência à situação atual. É um momento para ser forte e celebrar a união através da diferença. Este é o nosso primeiro projeto, e esperamos fazer muito mais no Brasil e no mundo, não apenas com música, mas com arte, escrita, tecnologia – todo tipo de troca e expressão.

YAGA
Dias 3 (sábado), das 23 às 8h; e 4 de novembro (domingo), das 17 às 3h
Love Story. Rua Araújo, 232, República

Ingressos: www.ingresse.com/yaga– 2º Lote: Por dia R$140 ou Pacote 2 dias R$250

3 de novembro
Alada
Arca
Cemfreio
Aretha Sadick
FKOFF1963
Juliana Huxtable
Mia Badgyal
Onírica
LV1SLV1S

4 de novembro
Stroka
Carneosso
SOPHIE
BADSISTA
Sijeh
Linn da Quebrada
DJ Whey
Total Freedom
Luisa Puterman
podeserdesligado

Coletivos
Animalia
coletividade.NÁMÍBIÀ
Tormenta
Casa Monxtra

*Foto capa: ARCA / divulgação facebook

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

30 de October, 2018

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Lalai Persson

Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.

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    Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.