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Festival Vento: vem me trazer boas novas

Quem escreveu

Ana Portela

Data

28 de September, 2018

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Com a proposta de fazer o público mergulhar numa reflexão sobre o tema “tempo” foi que, entre os dias 06 e 09 de setembro, o Vento Festival entregou sua 4ª edição. No line up tiveram artistas de todos os gêneros da música representando, de algum modo, um ‘agora’ e uma realidade diferente. Uma verdadeira imersão que, por quatro dias, permitiu que toda diversidade musical que o Brasil oferece  fosse vista e ouvida, do norte até São Paulo. E tudo isso em uma atmosfera de comunhão, compartilhamento de ideias e muita natureza envolvida.

Foto: Flashit

Era possível sentir a energia que vinha daquele movimento, das cores e das bandeiras espalhadas, das estruturas montadas em praça pública, à beira mar, no charmoso Centro Histórico de São Sebastião, à 206 km de SP. Pelas ruas da cidade se via a comunidade se organizando, pessoas chegando, as praias movimentadas, hotéis lotados. Não é à toa que o Vento 2018 em pleno feriadão fez com que geral descesse a serra, reunindo cerca de 24 mil pessoas em uma das edições mais emocionantes da história do festival.

Ao todo 23 atrações, divididas entre bandas, artistas e Djs, em duas propostas de palco: o Oca menor e mais intimista, e o palco Vento, maior e mais abrangente. Juntos, esses palcos trouxeram nomes novos e emergentes da música autoral brasileira. Cada dia teve um ápice diferente, por isso resolvi retratar aqui meu singelo olhar sobre eles, mas você pode conferir o line up completo aqui. Aproveita e clica na playlist do Vento no Spotify porque, acredite, ela vicia!

#Dia1 – Aquele em que a gente entendeu o que viria pela frente 

O pontapé inicial do festival já impressionou ! No palco Oca, a cantora Natália Matos (PA), vencedora do Open Mic – uma seletiva que acontece antes do Vento, na qual o público vota e escolhe o artista/banda que abre o evento. Claro que como boa manauara que sou, não pude deixar de me maravilhar ao ver o norte do país ganhando espaço em um festival como esse.

Natália Matos e Anne Jezini – Foto: Nathália Castro

Natália é dona de uma voz linda e traz um som original, que se apresenta, certamente, como um contraponto ao que se costuma ouvir do Pará. Ela manteve o público envolvido ao longo do show e surpreendeu ao convidar para o palco  Anne Jezini (MAO). Juntas, elas deixaram bem claro que as artistas do norte sabem o que fazem, e como. 

Luedji Luna – Foto: Flashit

Falando em ápice, não acredito que existam palavras para descrever dois dos shows desse primeiro dia: Luedji Luna (BA) – que abriu o show com a canção “asas” – música que inspirou o título deste registro – e trouxe para o palco Vento toda intensidade da música baiana. Ela simplesmente fez todo mundo dançar, cantar e aplaudir sucessos como “Banho de Folhas” sem perder a leveza. Com Letrux (RJ) não foi diferente. Ela – que vem ganhando cada vez mais espaço apresentando um som ao mesmo tempo inovador e cheio de referências nostálgicas – tirou o público do sério. Letícia não passou batida na festinha, como ela mesma diz na letra  de “Vai Render”, sucesso do álbum “Letrux em Noite de Climão” que virou hino pelo festival.

O primeiro dia foi como um choque de realidade que mostrou já de cara à que veio o Vento 2018 … e rendeu mesmo! \o/

Letrux – Foto: Flashit

#Dia2 – Aquele da entrega e da expansão de sons e consciência.

O segundo dia também começou com o som do norte no Palco Oca, mas dessa vez com a musicalidade da banda manauara Alaíde Negão. Eles que já circularam por vários festivais e pela capital paulista não hesitaram em mostrar com quantas notas se faz música boa do Amazonas. 

Alaíde Negão abrindo o segundo dia do Vento – Foto: Flashit

Neste dia vimos também Bia Ferreira (SE) e Doralyce (PE) – juntas e em apresentações individuais – provocando catarses e epifanias em cada verso. Entramos em uma viagem sensorial com a apresentação da Xenia França. Ela, assim como Bia e Dora, das luzes do palco aos tambores, mostrou que sabe não só entregar um bom show, mas também ocupar seu lugar de fala. Arrisco até dizer  que vi Xenia elevar a vibração de milhares de pessoas em uma simples, mas marcante apresentação.

Xenia França no palco Vento- Foto: Flashit

Ainda no contexto do extra sensorial, não tem como não falar sobre o Bixiga 70, banda que fez todo mundo descer até o chão com aquela qualidade instrumental que todo mundo conhece e uma energia que dava pra sentir do outro lado do Centro Histórico ou até por quem só passava pela rua.

Bixiga 70 eletrizando o palco Vento – Foto: Flashit

Ainda no contexto de lugar de fala, vale destacar também o rapper Edgar, de Guarulhos. Confesso nunca ter visto nada parecido, teria que escrever um texto inteiro sobre (e vou!). Acontece que ele quando diz “o futuro é uma criança com medo de nós” entrega nos palcos por onde passa uma performance que impressiona e, sem dúvida, transforma.

Edgar e sua performance psicodélica – Foto: Flashit

E foi com chave de ouro que, ela, bem acompanhada, vinda do Rio Grande do Norte e cuja personalidade sonora é singular, fechou o dia dois do Vento. Assistir Luísa e os Alquimistas é como fazer uma viagem sem sair do lugar, ao mesmo tempo refletindo e se entregando à aquela energia e a combinação de estilos que a artista propõe.  Luísa passa pelo brega, pop, rap, canta em várias línguas e faz, do início ao fim, um show magnético. Vale à pena cada segundo! 

Luísa e os Alquimistas – Foto: Flashit

SEM DÚVIDA o dia dois ficou na memória pela música, mas mais ainda pela reflexão que promoveu sobre temas como raça, preconceito, gênero, consumo e democracia.     Um dia que voltamos todos para casa pessoas diferentes e, quiçá, melhores.

#Dia3 – Aquele em que a emoção tomou conta.

Ekena – Foto: Flashit

Com Tiê, FingerFingerr e Nômade Orquestra nos palcos, o terceiro foi aquele dia que a saudade já batia na porta e que ficou por conta da emoção. O dia em que geral sentiu a força da natureza que é Ekena e seu hino contra o machismo, “Todx Putx”. O dia em que todo mundo se contagiou pela mensagem e sonoridade do Radiola Serra Alta se apresentando com Jéssica Caetano pela primeira vez. Não era difícil perceber que juntos eles trouxeram o melhor de Pernambuco e da música nordestina de raiz direto para o litoral norte de São Paulo.  

Radiola Serra Alta e Jéssica Caetano – Foto: Flashit

Esse dia chamou a atenção porque, nele, foi possível ver claramente que amizades que nasceram ali, dentro e fora dos palcos. Todo mundo parecia à vontade e ao mesmo tempo já nostálgico e a expressão disso eram choros, aplausos, abraços e, claro, muitos sorrisos.

#Dia4 – Aquele em que o Vento convida e o Grajaú toma conta.  

The Monkey’s THC – Foto: Flashit

Para entender o porquê o Grajaú teve um dia dedicado nesse festival é importante entender que a proposta essencial do Vento é utilizar a música como agente de transformação social. Em 2018, a maior expressão disso foi ter no encerramento do evento o som da periferia, missão dada ao Grajaú por Intermédio do seu Centro Cultural e cumprida com excelência por seus artistas. Ao assistir, por exemplo, os shows do The Monkey’s THC e de Andreia Dias – que volta aos palcos com um novo trabalho – foi fácil perceber que a cultura pulsa mesmo é onde a sociedade menos observa. Pulsa e transborda.

Andreia Dias – Foto: Flashit

Outro diferencial que também nasceu dessa combinação Vento e Grajaú foi a apresentação do festival que, nesta edição, foi feita por Dj Zeme e Márcio Poeta. Ambos são artistas consagrados na comunidade e juntos deram ao festival a cara da inclusão, da simplicidade e da mudança que o Vento busca realizar por meio da música.  Ver uma gente tão simples, gentil, organizada e cheia de talento fazendo jovens, idosos e crianças dançarem no fim daquela tarde de domingo, como se não houvesse amanhã, foi comovente. O melhor, mais intenso e mais bonito jeito de se despedir do Vento 2018.

Pausa para as novidades

Lojinha do Vento – Foto: Flashit

Além da lojinha do Vento, na qual era possível encontrar brindes do festival, CD’s dos artistas e outras coisas, esse ano o festival trouxe uma super novidade, a Vila Vento. Um espaço de ilhas gramadas que comportou duas ações: uma focada em alimentação, com Food Trucks posicionados entre os dois palcos,  acessível e fácil de circular sem perder tempo.  Lá era possível comer e beber de um tudo mesmo, inclusive comida vegana e chopes artesanais deliciosos.

Chopp artesanal do bom no Vento – Foto: Flashiit

E a Fêra-Féra, iniciativa conjunta de produtores, empreendedores e designers, que já acontece a cada dois meses em São Paulo e se instalou no Festival colorindo e ganhado a atenção do público nas trocas de palco. 

Fêra-Fera – Foto: Flashit

Uma ação bem chamativa foi a  instalação artística com um mural de Hanna Lucatelli, que trouxe toda sua sensibilidade para a atmosfera do Vento. Ao longo do festival o painel de Hanna foi preenchido com várias mensagens de amor e de força, e acabou virando point oficial de selfies e fotografias no evento. De fato, o que não faltou na programação foi criatividade, mas bem no estilo Vento de ser.

Hanna Lucatelli e seu painel – Foto: Acervo Pessoal

Até 2019

Contra todas as probabilidade e mesmo com todos os imprevistos – tais como a mudança de data de junho para setembro em função da greve nas estradas – essa edição foi uma experiência coletiva renovadora. O Vento que é considerado o festival de música formador de opinião mais relevante da atualidade é gratuito e independente, feito por muitas mãos e cabeças. Ele mobiliza  artistas e produtores culturais dos quatro cantos do país e é também uma verdadeira demonstração de resistência e de amor pela música. Isso sem esquecer que ele é também um importante agente cultural que promove a troca, que mobiliza e  impulsiona a comunidade de várias maneiras, reafirmando a cada ano o compromisso que assumiu com a responsabilidade social de ajudar o litoral a crescer.

Foto: Flashit

Sem dúvida, a edição 2018 foi marcante e inspiradora. Um espaço/tempo que, de maneira inclusiva e muito democrática, reuniu pessoas de todos os gêneros, classes e idades em volta da música, deixando com que ela dissesse tudo que precisava ser dito. O papel de quem ouvia era sentir e assimilar!

O Vento Festival é assinado por Anna Penteado (Curadoria Musical) e Tatiana Sobral (Direção Criativa), e é uma realização do Vento Studio com o apoio da Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Social de São Sebastião. Mas é, acima de tudo, um trabalho lindo de se ver e experienciar. Que venha então a edição CINCO anos … Porque a vida precisa de mais momentos e oportunidades de transformação assim!

*Foto destaque: Flashit

Quem escreveu

Ana Portela

Data

28 de September, 2018

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Ana Portela

Jornalista por formação e Produtora Cultural por propósito. Direto da Amazônia, Ana viaja o Brasil trabalhando em shows, festivais e pesquisas. Focada em desbravar sons, costumes, sabores e experiências, é assim que ela pretende dar a volta ao mundo: aprendendo novas músicas e conhecendo novas culturas. Acredita que o sentido da vida é a troca. Pensadora profissional e escritora amadora, ela anda por aí capturando momentos únicos, revelando belezas essenciais e compartilhando tudo isso escrevendo aqui.

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