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5 lições aprendidas na Semana Internacional de Música (SIM São Paulo)

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

12 de December, 2018

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Foram três dias intensos e imersos dentro da SIM – Semana Internacional de Música – que aconteceu na semana passada em São Paulo. O festival trouxe uma ótima programação focada no mercado da música. Foram muitos painéis com nomes nacionais e internacionais, a estreia do Data SIM, plataforma de pesquisa do mercado da música, muitos, mas muitos shows e showcases além, claro, de bastante networking do começo ao fim do evento.

A Fabiana Batistela, criadora e diretora da SIM e recém premiada como a “Melhor Empreendedora Musical no WME Awards 2018”, acertou em cheio ao abraçar várias frentes dentro do negócio da música. Como ela mesma disse “o valor da música é a cara da nossa nação”, afinal “o mercado da música gera, no mínimo, o triplo de empregos que a indústria automobilística gera por ano. Formamos profissionais mais capacitados, mais informados, mais capazes de trabalhar com qualquer outra indústria. Fomentamos o turismo, pagamos milhões de impostos municipais, estaduais e federais. Produzimos um dos bens mais exportáveis deste país. Criamos redes de negócios que movimentam a economia de forma incalculável (até agora).” E tem um país questionando o valor das leis de incentivo para as artes.

Eu bato palmas pra ela em pé.

Nesta edição da SIM eu frequentei apenas a programação diurna que aconteceu no Centro Cultural São Paulo, onde rolaram os painéis e showcases. Eu me inspirei e aprendi bastante nestes três dias. Divido aqui alguns aprendizados e descobertas:

1) O Brasil tem mais festivais de música do que eu imaginei

Quantos festivais de música tem o Brasil?
Festival Bananada, em Goiânia. Foto: I Hate Flash

A SIM se juntou com a Sympla para mapearem os festivais de música no Brasil. A pesquisa partiu da base de dados da própria Sympla, atualmente uma das plataformas mais utilizadas para venda de ingressos, ou seja, a pesquisa tem uma grande abrangência, mas deixou de fora os festivais maiores e outros que utilizam diferentes ticketeiras. Não foram incluídos, por exemplo, Popload, Rock’n Rio, Lollapalooza. Ainda assim o resultado é surpreendente, mostrando todo o potencial que temos pra explorar neste mercado. O estudo da Sympla contemplou um total de 1.928 festivais, sendo que obtiveram dados completos de 1.792. Se você se surpreendeu com esse número como eu, saiba que ele equivale a mais ou menos 60% dos festivais existentes no país, mas que ainda faltam ser mapeados de forma sistemática.

DATA SIM e Sympla: quantos festivais de música tem o Brasil. Foto da mesa participante por Lalai Persson
DATA SIM e Sympla: quantos festivais de música tem o Brasil. Foto da mesa participante por Lalai Persson

Para entrar na lista foram considerados eventos cujo principal conteúdo é a música; que possua em sua programação a concentração de várias bandas/DJs/músicos e que a organização se identifica como um evento de Festival de Música.

Algo que eu já detectava fazendo os guias mensais de festivais é que os picos rolam em julho, setembro e novembro. Os meses com menos festivais no calendário são de janeiro a abril. Maio tem um crescimento e junho recua novamente.

A região Sudeste é a que tem maior concentração de festivais, seguida do Nordeste (2º lugar), Centro-Oeste (3º), Sul (4º) e Norte (5º). Todas elas, com exceção das regiões Centro-Oeste e Sul, tiveram crescimento na quantidade de festivais em 2018 em relação a 2016 e 2017.

2) Resistência é a palavra da vez

A artista palestina Rasha Nahas - frame vimeo - uma das presentes no SIM São Paulo
A artista palestina Rasha Nahas – frame vimeo – uma das presentes no SIM São Paulo

Tóxico foi a palavra eleita em 2018 pelo dicionário Oxford, mas resistência tem grandes chances de ser a de 2019, pelo menos aqui no Brasil e em vários painéis da SIM. Escolher a música como caminho profissional já denota resistência, afinal não é uma área fácil de seguir. Eu me comovi com o painel “Conexões Internacionais: um circuito fora do eixo do grande mercado de música que você precisa conhecer”. Se aqui já é difícil, imagina quando você nasce na Palestina e a alternativa de vida que você tem é justamente “resistir”. O painel, apresentado pelo Fabrício Nobre (Bananada), levou ao palco a cantora Rasha Nahas (Palestina), Beth Achitsa (ONGEA!/Quênia), Martin Goldschmidt (Cooking Vinyl/UK e Palestine Music Expo/Palestina), além de três representantes das Ilhas Canárias, na Espanha, que está colocando a remota ilha como um hub musical no Atlântico.

Martin Goldschmidt direcionou seu foco profissional para ajudar a desenvolver a cena musical da Palestina. O PMX não é um festival que visa lucro. O objetivo é dar suporte aos artistas palestinos. De acordo com ele e também com o Fabrício, que já esteve em uma edição, é um evento único ao mesmo tempo que é desesperador ver como é viver sob uma ocupação. Para circular nos shows à noite é necessário passar por barreiras e pode ser que você nem chegue neles. É uma realidade muito distante de tudo que vivemos. A artista palestina Rasha contou que em 2017 fez um showcase de 15 minutos e quando saiu do palco encontrou com o booker do Glastonbury, que a convidou para tocar no festival. Essa foi a razão por ela estar na SIM, pois o convite abriu várias portas e motivou artistas locais a seguirem em frente. Agora é possível se apresentar, encontrar agentes de outros lugares e sair do isolamento da Palestina.

O Boiler Room colocou um estúdio dentro de um campo de refugiados, por exemplo. Nele se apresentaram artistas que nunca tiveram oportunidade de se apresentar ao vivo. A música se prova como transformadora de fato. Apesar de não ter sido no PMX, vale a pena conferir esse Boiler Room gravado na Palestina em setembro.

No Quênia não é diferente, já que a atenção ainda não está totalmente voltada para a África, mesmo tendo sido ela um dos destaques nos últimos festivais de música que fui na Europa. O ONGEA! é uma conferência de música que ajuda os artistas a serem descobertos, não ficando assim restritos ao continente africano.

Edgar, que empatou com a Luedji Luna. Foto: @dricogaldino
Edgar, que empatou com a Luedji Luna na categoria Novo Talento. Foto: @dricogaldino

Já no Prêmio SIM a resistência voltou a ecoar. A premiação valorizou artistas e projetos que tem posicionamento definido transformando realidades através da música. Na categoria Novo Talento houve empate entre Luedji Luna e Edgar. O projeto do ano ficou com o Aparelha Luzia, centro cultural e quilombo urbano. O nome é uma homenagem À Luiza, o mais antigo fóssil humano do Brasil. Em 2016 foi palco de festas, cursos, exposições e debates.

Na categoria Inovação, o Keychange foi o vencedor, mostrando a importância da discussão sobre a desigualdade de gênero na indústria da música. Hoje já são 150 festivais (incluindo a SIM e o Coquetel Molotov) engajados no Keychange, plataforma que luta pela paridade de gênero nos line-ups dos festivais.

O homenageado na premiação foi o saudoso Carlos Eduardo Miranda, falecido em março, que foi símbolo de resistência e contribuiu imensamente para o crescimento da cena musical brasileira.

3) Se o seu evento não tem uma causa por trás, ele não tem motivo para existir

Mesa sobre festivais brasileiros com menos de 10 anos, uma das maiores da SIM São Paulo.
Mesa sobre festivais brasileiros com menos de 10 anos, uma das maiores da SIM São Paulo.

A produtora Carolina de Amar, do festival mineiro Sarará, fez o auditório todo chorar emocionado. O painel “Novos festivais pelo Brasil. Um painel expositivo de projetos que movimentam a nova cena” encheu o palco com 11 produtores de festivais que tem menos de dez anos de história. O Anderson Foca (Festival DoSol/RN) foi o mediador.

A discussão não foi longa, já que tinha mais gente presente do que tempo pra falar, mas ainda assim a fala da Carolina de Amar valeu pelo dia de festival. Ao apresentar o Sarará, Carolina contou que quando decidiu fazê-lo, ela concluiu que se ele não tivesse uma causa por trás, ele não teria motivo para existir. Decidiu então que a principal causa do Sarará seria a inclusão com foco em trans. Essa inclusão se estendeu posteriormente às pessoas acima de 60 anos e pessoas com Síndrome de Down. Na última edição (2018) o festival se juntou com outro festival mineiro, o S.E.N.S.A.C.I.O.N.A.L., levando essa diversidade para o Mineirão. A Macaco, produtora do Sarará, abriu inscrições para trans, idosos e pessoas com Síndrome de Down, fez seleção, deu curso de capacitação e colocou todos para trabalharem em diversas áreas do festival, como bar, bilheteria, apoio ao público, etc. O resultado foi a melhor nota de satisfação nos serviços de todas as edições do festival. Carolina ainda convidou todos da mesa também a abraçar mais a diversidade na hora de contratar pessoas para trabalharem em seus eventos. Como disse ela, se todos os festivais empregarem mais trans, a gente muda o mercado. Dá um play no vídeo e se emociona um pouco também.

Na mesma linha de inclusão, o Festival Satélite 061 (DF) da Marta Carvalho segue linha similar. É um festival periférico focado também na inclusão. O Satélite 061 batalha pela capacitação da população mais carente através da cultura e da arte com uma agenda de atividades de formação e eventos espalhados pela cidade. A grande festa acontece acontece em Brasília (na área da Esplanada) colocando ônibus nas cidades satélites para levar e trazer as pessoas da periferia pro festival.

4) A SIM transforma sim

Na mesa “Música como Instrumento de Transformação Social” eu soube dessa linda iniciativa da SIM, que criou a plataforma SIM Transforma em parceria com as Fábricas de Cultura, programa do Governo de SP que está inserido nas periferias desde 2012 e hoje conta mais de 10 espaços espalhados por bairros de São Paulo; o blog Tenho Mais Discos Que Amigos, que divulga os artistas que passam pelo programa; a OnStage Lab, que oferece bolsas de estudo e a distribuidora Tratore.

O objetivo é quebrar a barreira social e geográfica através da música ao juntar a nossa bolha “centro” com a periferia. A SIM Transforma promoveu várias atividades ao longo de 2018 com diversos profissionais da indústria musical que deram palestras, mentorias e participaram de rodadas de negócios em diferentes bairros de São Paulo. O programa ofereceu residências artísticas entre músicos já estabelecidos com jovens talentos da periferia.

Que a música transforma a gente já sabe, mas bacana mesmo é ver de perto programas que realmente colocam isso em prática. Aqui novamente entramos na questão da inclusão, o que a SIM está fazendo muito bem.

5) Showcases são sempre apostas acertadas

Showcase incrível do Teto Preto que encerrou os showcases da SIM São Paulo. Foto: Lalai Persson
Showcase incrível do Teto Preto que encerrou os showcases da SIM São Paulo. Foto: Lalai Persson

Showcase é o lugar certo para encontrar talentos. Quem está naquele palco já passou por uma curadoria apurada. Alguns já estouraram, outros estão na iminência de estourar. Há também artistas menos conhecidos, mas que alguém apostou que eles vão dar o que falar para coloca-los nesse grupo.

No SXSW, por exemplo, eu sou rata dos showcases e geralmente é neles que encontro os artistas que acabo gostando mais no festival. Nesse ano a SIM recebeu mais de 2 mil inscrições de bandas para fazerem showcases. Delas, apenas 27 foram selecionados. Não teve erro. Ao longo dos três dias a qualquer horário que eu entrei na Sala Adoniran Barbosa, no CCSP, eu vi um ótimo show. Não teve um meia boca sequer. Não vi todos, já que os showcases acontecem na hora das palestras, mas vi o suficiente pra ficar feliz. Edgar, Teto Preto, Luisa e os Alquimistas, ÀTTØØXXÁ, Félix Robatto, Conan Osíris (que show mara) e Miss Bolivia foram os que eu consegui ver. Todos foram ótimos, mas Edgar ganhou meu coração e o Teto Preto só mostrou que ainda vai causar bastante mundo afora. Aguardem!

Já no Jardim Suspenso, um dos meus lugares favoritos do CCSP, a Oi criou o Espaço Labsônica onde rolaram vários happy hours (e churrascos!) de cidades e países promovendo seus artistas com showcases. Por lá eu descobri os canadenses Afrotronix e La Bronze; a britânica Tawiah; os australianos Deep Sea Arcade e Jess Cornelius, além de ter visto alguns bons shows direto do Pará.

No caso da SIM a parte boa de gostar de um showcase é a oportunidade de na sequência ver um show ao vivo, já que todos se apresentam na programação noturna que se espalhou este ano por 42 espaços diferentes.

O Jardim Suspenso funcionou muito bem como área de networking. Foi de fato o melhor lugar para fazê-lo.

Conclusão

A SIM se firma como uma das principais conferências de música da América Latina. A relevância que o festival tem ganhando é mais do que merecido, pois a programação estava no geral impecável,  além de abrir portas para artistas no mercado internacional. Esse ano trouxeram vários produtores de festivais nacionais e internacionais.

Quem quiser conhecer os festivais internacionais que passou pela SIM, a lista está aqui (tinha até o produtor do Fuji Rock, no Japão!). A SIM apresentou também novos festivais e plataformas de música que tem lançamento previsto para 2019. Já quem gosta de pesquisar novos artistas, vale a pena conferir a lista de artistas que tocaram no evento.

*Foto destaque: Conan Osiris / SIM São Paulo

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

12 de December, 2018

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Lalai Persson

Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.

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