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Sifnos e Milos: ilhas gregas fora do eixo

Quem escreveu

Kamille Viola

Data

13 de January, 2017

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Quando se fala em ilhas gregas, logo vêm à mente Santorini e Míconos, os destinos mais populares entre os brasileiros. Mas as Cíclades, arquipélago circular em torno da ilha-museu de Delos, são mais de 220, e guardam tesouros como paisagens paradisíacas, sítios arqueológicos e uma culinária única. Fugindo da rota tradicional, é possível encontrar preços mais atraentes e pontos turísticos menos concorridos. Duas dessas ilhas, que não perdem em nada para as mais conhecidas, são Sifnos e Milos.

Sifnos

A baía de Kamares, em Sifnos. Foto: www.sifnos.gr
A baía de Kamares, em Sifnos. Foto: www.sifnos.gr

Confesso que a escolha por Sifnos foi um tanto pragmática: queríamos uma ilha que ficasse entre Pireu (Atenas) e Milos, para a qual conseguíssemos transporte direto. Depois de alguma pesquisa, acabamos nos decidindo por ela. Li em algum lugar que, para quem quisesse ter uma experiência de ilha grega verdadeira, Sifnos seria uma boa opção, e isso foi um empurrão para irmos.

De acordo com o senso de 2011, existem 2.750 habitantes na ilha. Habitada desde a Idade do Bronze (cerca de 3000 A.C.), a ilha era famosa na antiguidade por suas minas de ouro e prata, além da cerâmica. Os metais preciosos foram se esgotando, o que fez com que perdesse importância na região. Mas a cerâmica segue firme e forte até hoje, inclusive com a fabricação de utensílios de cozinha.

O solo da ilha é constituída por rochas de granito, pedra de arenito argiloso e ardósia, calcário etc. Ele contém minerais como o minério de ferro, cobre, chumbo, manganês, galena e magnésio. Na antiguidade, nos tempos das minas de metais preciosos, a ourivesaria se desenvolveu na região, e a “pedra de Sifnos” era muito utilizada para produzir vidro.

As buganvílias e os gatos fazem parte da paisagem de Sifnos, como em diversas outras das Cíclades.

Vathy, cidade com uma das praias mais populares da ilha. Foto: www.sifnos.gr

Informações gerais

A ilha fica a cerca de duas horas do porto de Pireu no barco highspeed, e três horas no convencional. De lá, vai-se de barco para Milos, Kimolos, Serifos, Kythnos, Sikinos, Ios, Folegandros, Santorini, Paros, Syros e Creta. No verão, também dá para ir a Mykonos, Naxos e Lavrion. Não tem aeroporto, apenas um heliporto, em Tholos.

A maioria dos lugares turísticos aceita cartão, mas é bom ter dinheiro vivo, como em todo lugar da Grécia, seja porque existem os que não aceitam, seja porque muitas vezes o sinal da internet é ruim. Antes de ir a uma praia, é importante conferir se é uma praia é não organizada, porque isso significa que ela não tem estrutura de bares e restaurantes nem cadeiras ou guarda-sóis. Nesse caso é importante levar água, lanche e bastante filtro solar.

A melhor época para visitar a ilha é no verão europeu (de meados de junho a meados de setembro), lembrando que agosto é o auge. A Páscoa também é uma época animada para o lugar, assim como as panagiri, festas religiosas que reúnem dança, música e comida.

Onde ficar

A capital de Sifnos é Apollonia, também chamada de Hóra, construída em forma de anfiteatro sobre três montanhas no centro da ilha. É formada por casinhas brancas e ruas estreias, numa paisagem clássica cicladiana. Tem diversas opções de hotéis, restaurantes, casas noturnas e serviços em geral. Foi nossa escolha, e ficamos no Anthousa, que além de ser bonitinho e muito bem localizado, tem um concorrido café na entrada, onde é possível tomar café da manhã ou saborear um capuccino freddo (um vício) na volta da praia.

Apollonia, a capital de Sifnos. Foto: Jon Corelis
Apollonia, a capital de Sifnos. Foto: Jon Corelis

Kamares é considerada a melhor praia de porto da Grécia, com hotéis à beira-mar, bares e restaurantes. A praia é rasa e tem águas calmas e mornas. É a escolha de muitos turistas para hospedagem, sobretudo famílias com crianças.

Mas também há opções mais tranquilas e menos procuradas por turistas. Artemonas é uma delas. Terminal de todas as rotas de ônibus da ilha, o vilarejo tem igrejas, padarias tradicionais e docerias, restaurantes, quartos para alugar, apartamentos e hotéis, além de ateliês de cerâmica tradicional. Como resultado da prosperidade econômica da aldeia há meio século, o lugar tem belos edifícios neoclássicos e casas com pátios cheios de flores, encontradas principalmente ao longo do caminho central da vila. Há dois antigos moinhos de vento, na região conhecida como Bella Vista (Kallithea, em grego), de onde a vista é deslumbrante.

Escadaria em Artemonas. Foto: Archway Andres
Escadaria em Artemonas, com as cerâmicas típicas da ilha. Foto: Archway Andres

Vathy (ou Vathi) fica a oeste, a 10 km from the capital, Apollonia, e é escolhida de muitos turistas. Em Punta tou Polemikou, o trecho final de sua baía, foram encontradas evidências pré-históricas e túmulos. Até a Segunda Guerra, Vathy era um vilarejo de ceramistas. Possui a maior praia de areia da ilha.

A antiga capital de Sifnos, Kastro. Foto: Sean Perry
A antiga capital de Sifnos, Kastro. Foto: Sean Perry

Kastro é a antiga capital da ilha, e não é habitada há mais de 3 mil anos. Situada no topo de uma rocha debruçada sobre o mar, é um vilarejo medieval cercado por muralhas venezianas do século XIV.  Possui duas igrejas: a dos Sete Mártires fica acima de uma área considerada excelente para snorkeling; já da pequena Agios Nikolaos, se veem as ilhas de Folegandros, Sikinos, Antíparos e Paros. No porto, Saralia, há algumas tavernas.

Antigamente acessível apenas via mar, Heronissos é uma tradicional vila de pescadores e foi um dos principais lugares para a cerâmica na ilha. Tem uma pequena praia de areia, poucos lugares onde se hospedar, alguns restaurantes e o ateliê de Kostas Depastas, um dos poucos ceramistas tradicionais remanescentes.

Heronissos. Foto: www.sifnos.gr
Heronissos é um vilarejo de pescadores, antigamente acessível apenas via mar. Foto: www.sifnos.gr

Exambela, na estrada para Platis Gialos e Faros, é famosa por ser a cidade de Nikolaos Tselementes. Ele é um conhecido chef e autor do primeiro livro de receitas gregas, ‘Tselementes’, que teve a primeira edição em 1910.

As outras cidades são Katavati, Agios Loukas, Kato Petali, Pano Petali, Faros e Chrysopigi.

Transporte

Se você decidir viajar sem carro, moto ou triciclo, a melhor opção é Apollonia, de onde partem todos os ônibus e onde há bons hotéis, restaurantes e outros serviços. A cidade é bem servida de ônibus no verão. Nas outras épocas do ano, no entanto, há menos horários disponíveis. Vale a pena checar antes de programar sua viagem.

Do porto, em Kamares, há ônibus para as outras cidades, porém com mais frequência para Apollonia. Se você se hospedar em outro lugar, é capaz de esperar muito tempo pelo transporte público. Uma pedida é programar um passeio de algumas horas em Kamares entre a chegada do seu barco e o horário do ônibus. A outra é pedir um táxi, mas é importante reservar com seu hotel antes de chegar à cidade, pois não há muitos à disposição. Do porto a Apollonia, uma viagem de táxi custa 9 euros (e, se você foi dividir com outras pessoas que estiverem por lá, o preço não é o mesmo, e sim cobrado individualmente por cada passageiro, como em geral acontece na Grécia).

Comes e bebes

A gastronomia é um dos orgulhos de Sifnos, e a ilha é famosa por isso. A comida tradicional local é preparada com cozimento lento em fornos de barro a lenha, e cassarolas e panelas de cerâmica. Entre os pratos mais célebres estão revythada, sopa de grão de bico cozida por horas na skepastaria (uma panela de barro especial), tradição para os domingos depois da missa, e o mastello, cordeiro ou cabrito cozido em panela de cerâmica no forno de barro (que também se chama mastello), marinado em vinho tinto sobre galhos de parreira. É típico da Páscoa, mas facilmente encontrável nos restaurantes da região em outras épocas do ano.

A sopa de grão de bico é comida típica dos domingos. Foto: sifnos.gr

abras são os ingredientes típicos. Peixes e frutos do mar frescos (especialmente polvos) também. Sifnos também possui seus próprios queijos, entre eles o anthotyra, fresco e cremoso; gylomenimanoura, preto e maturado em ervas, e chloromanoura, fresco e duro.

As docerias são comuns na região, e vendem produtos típicos como os koulouri, biscoito doce de anis salpicado com gergelim; loli, uma torta doce de abóbora, e melopita, uma espécie de cheesecake de mel. No ínicio da quaresma, é comum prepararem o rizogalo (que é como o nosso arroz-doce). Licores de ervas e frutas são tradicionais. Sifnos não é famosa pelos vinhos, mas há uma pequena produção local e vale a pena provar, são bebidas baratas e despretensiosas.

Uvas, azeitonas e azeite, alcaparras, figos, amêndoas, mel, ervas, ovelhas e cabras são os ingredientes típicos. Peixes e frutos do mar frescos (especialmente polvos) também. Sifnos também possui seus próprios queijos, entre eles o anthotyra, fresco e cremoso; gylomenimanoura, preto e maturado em ervas, e chloromanoura, fresco e duro.

Salada grega com queijo. Foto: Anestis Iliadis
Salada grega com o queijo local anthotyra. Foto: Anestis Iliadis

As docerias são comuns na região, e vendem produtos típicos como os koulouri sifna (literalmente, biscoito de Sifnos), biscoito doce de anis salpicado com gergelim; a loli, uma torta doce de abóbora, e a melopita, uma espécie de cheesecake de mel. No ínicio da quaresma, é comum prepararem o rizogalo (que é como o nosso arroz-doce). Licores de ervas e frutas são tradicionais. Sifnos não é famosa pelos vinhos, mas há uma pequena produção local e vale a pena provar, são bebidas baratas e despretensiosas.

Nicolau Tselementes, chef de cozinha nascido na ilha no início do século XX, é considerado um dos mais influentes autores de culinária da Grécia moderna. No início de setembro, acontece em Artemonas o Festival de Gastronomia Tselemendes onde, durante três dias, representantes das Cíclades expõem seus produtos em estandes. Também acontecem shows de música, dança e até uma representação de um casamento típico de Sifnos.

Um dos restaurantes preferidos da viagem foi o Oraia Sifnos, em Apollonia, onde comi o que provavelmente foi o melhor prato de todos: carne com batata marinados no vinho e cozidos com molho de tomate em panela de barro. Além de boa comida e uma varanda charmosa, o lugar conta com a simpatia do garçom (em alguns lugares nas ilhas gregas, é comum ter apenas um garçom atendendo) e picolé caseiro e shots de rakomelo (uma mistura de raki com mel e especiarias) de cortesia. Infelizmente não chegamos a ir ao Omega 3, elogiado restaurante em Platis Gialos.

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A varanda do restaurante Oraia Sifnos. Foto: Kamille Viola

O que fazer

As praias de Sifnos não são as mais deslumbrantes da Grécia. Mas são familiares para nós, brasileiros, por em geral serem de areia, e não pedra, como em algumas partes do país. Porém, suas águas são azuis e cristalinas, e costumam ser menos muvucadas do que as de destinos mais famosos.

Platis Gialos (pronuncia-se “Platí Ialo”) é a preferida dos turistas. A areia é marrom-claro e a água, azul, como em geral é no Mar Egeu. Tem restaurantes, onde é possível utilizar as cadeiras e guarda-sóis (não precisamos alugar, só consumimos em um bar). É perfeita para passar o dia tomando vinho rosé ou branco local, ou ainda alguma cerveja grega, e comer peixe ou outra comida de beira-mar. Dá para ir de automóvel ou ônibus. No verão, ainda dá para alugar caiaques e praticar esportes aquáticos.

A praia de Platis Gialos. Foto: www.sifnos.gr
A praia de Platis Gialos. Foto: www.sifnos.gr

Outra pedida famosa da ilha é a de Vathy. A maior praia de areia do lugar, considerada por muitos a mais bonita, tem águas calmas e de um azul profundo. A areia é fina e de cor marrom-claro. Também tem restaurantes e bares à beira-mar, embora seja menos agitada que Gialos.

Se você quer “fugir” e alugou um meio de transporte, Vroulidia pode ser uma boa opção. A praia fica entre dois morros, tem uma faixa de areia e pedras cinzas (o que para nós, brasileiros, pode ser um pouco estranho, mas na Grécia é supercomum), água transparente. Não é organizada, mas há umas poucas opções para comer e alguns guarda-sóis.

O vilarejo de Faros e sua praia. Foto: Archway Andres
A praia que batiza o vilarejo de Faros. Foto: Archway Andres

Faros é uma uma pequena vila de pescadores com praias de águas cristalina e areia. A praia que dá nome ao lugar tem uma pequena estrutura de lugares para comer. Fasolou conta com guarda-sóis e cadeiras, além de uma pequena taverna. Já Glyfo, também em Faros, é uma praia não organizada.

Por ser bastante montanhosa, Sifnos é propícia a trekking e escaladas. A ilha também tem opções como passeios de barco em torno da ilha ou nas vizinhas, snorkelling e mergulho.

As águas cristalinas de Vathy. Foto: Archway Andres
As águas cristalinas de Vathy. Foto: Archway Andres

Sifnos tem 235 igrejas e monastérios. Na Grécia, o dia do nome dos santos costuma ser comemorado (é também como se fosse um aniversário para quem tem o mesmo nome da divindade). Em muitas igrejas, esse dia é marcado pelo panagiri, uma festa com comida, música e dança. A Páscoa é outra época de muita celebração na ilha (há quem compare as duas datas com o Ano Novo).

O mosteiro de Panagia Chrysopigi (Panagia significa Nossa Senhora) fica em cima de uma península que se separou do continente: um milagre teria ocorrido quando as mulheres de Sifnos se refugiaram dos piratas lá. A igreja, erguida sobre as ruínas de outra ainda mais antiga, foi construída em 1650. Diz-se que a santa ainda realiza milagres para a ilha. O lugar é popular para batismos de meninos, já que, supostamente, ele lhes dará boa sorte, para que se tornem marinheiros ou pescadores.A área ainda conta com uma pequena praia de areia.

O mosteiro de Panagia Chrysopigi, ao qual são atribuídos milagres. Foto:
O mosteiro de Panagia Chrysopigi, ao qual são atribuídos milagres. Foto: Howard Chalkley

A igreja dos Taxiarchis (arcanjos), em Vathy, é uma igreja e um mosteiro duplos e situa-se no cais por onde chega o barco diário de Kamares. Foi construído no século XVI e seu panagiri, em 5 de setembro, é um dos mais populares e celebra o Arcanjo Gabriel. No dia 12 de julho e no dia 7 de novembro também há comemorações.

No ponto mais alto de Sifnos, mais de 600 metros acima do nível do mar, está o mosteiro do Profeta Elias Ypsilos. Fica num complexo em que a igreja principal é cercada por paredes, galerias subterrâneas, quartos no porão e as celas dos monges, que agora acomodam visitantes.  No vilarejo medieval do Kastro, está a igreja dos Sete Mártires, sobre uma rocha no mar. É o local mais fotografado da ilha e o acesso é por escadas esculpidas na rocha.

Mosteiro do Profeta Elias Ypsilos. Foto: Koen
Mosteiro do Profeta Elias Ypsilos. Foto: Koen

Também em Kastro, está o Museu Arqueológico, que tem esculturas que datam desde o período arcaico (século 6 A.C.).  Boa parte dos objetos encontrados na cidade está hoje no Museu Arqueológico de Atenas, mas vale a conferida. Já o Museu do Folclore e Pop Art, em Apollonia, fica aberto de abril a outubro todos os dias e tem objetos típicos da ilha, como ferramentas agrícolas e de uso doméstico.  E o Museu de Arte Sacra, em Exabela, tem relíquias como uma bíblia de 1796, vestimentas e outros objetos sagrados.

No caminho de Vathy para Apollonia, está um dos principais sítios históricos da ilha. As ruínas de Agios Andreas foram descobertas em 1899. Era uma cidade micênica (século 12 A.C.), com uma acrópole ou cidadela no topo do morro, o chamado castelo de Santo André (Agios Andreas), cercado por muros e torres. A subida é feita por um caminho em espiral estreito e dura cerca de meia hora.

Outro sítio arqueológico são as ruínas da cidadela do Profeta Elias de Troulaki, que datam do século 6 A.C., em um monte de 463 metros de altura. As minas de prata de Agios Sostis, que remontam a 3000 A.C., também muitos visitantes da ilha.

Milos

Foi na ilha que encontraram a estátua conhecida como Vênus de Milo, que hoje encontra-se no Museu do Louvre, em Paris. Mas as verdadeiras joias da cidade são as praias, as mais bonitas da Grécia. E são cerca de 70! Isso faz também do lugar um destino perfeito para casamentos (essa empresa, por exemplo, organiza cerimônias, seja na igreja, na praia ou em barco). Mais tranquila do que as ilhas mais famosas, tem praias mais vazias mesmo no verão e é perfeita tanto para casais apaixonados como para famílias com crianças e grupos de amigos.

Adamas, onde fica o porto de Milos. Foto: Pastitio
Adamas, onde fica o porto de Milos. Foto: Pastitio

Informações gerais

Milos tem uma população de cerca de cinco mil habitantes, de acordo com o último censo. Assim como Santorini, é uma ilha de origem vulcânica. Chamam atenção as muitas praias com águas cristalinas e impressionantes formações rochosas que existem por lá, nas mais diversas cores, esculpidas pelo vento. No passado, devido à grande diversidade de minerais que possui — sobretudo a obsidiana, que servia para produzir vidro — foi bastante explorada. Quase não chove no verão.

É possível chegar até lá de avião (45 minutos de voo) a partir de Atenas, ou de barco, de Pireu (3h30 ou mais) ou outras ilhas das Cíclades (as mesmas que vão para Sifnos). A melhor época para visitar é o verão (de julho a meados de setembro, quando o clima é quente e as chuvas são raras).

Transporte

De Adamas saem as principais linhas de ônibus da ilha, e as tarifas, a partir de 1,80 euro, variam de acordo com o destino. Fora da alta temporada, as saídas entre um ônibus e outro são espaçadas (consulte aqui os horários). Uma boa pedida é alternar ônibus e passeios de barco (em excursões ou particulares), para os lugares de difícil ou nenhum acesso por terra. Uma opção muito usada pelos turistas é o aluguel de scooter, mas em Milos é provável que peçam habilitação para motos (categoria A). Também dá para alugar triciclos, quadriciclos, carros ou bikes e, ainda, pegar táxi.

Comes e bebes

Lá, é possível encontrar comidas gregas famosas, como pita gyros, souvlaki e salada grega. Mas Milos tem sabores regionais também. Alcaparra, tomate, melão, melancia, azeitona, laranja, tangerina, uva, cabra e ovelha são culturas locais, além, é claro, de peixes e frutos do mar. Entre as especialidades estão uma massa de tomate curtida no sol, os pitarakia milou (pasteizinhos de queijo, praticamente iguais aos nossos!), 0 moraitiko (espécie de salgado de frango com tomate envolto em massa filo), o sourtoukiko (cordeiro embrulhado em papel e assado por horas), polvo grelhado (presente em várias das Cíclades) e o koufeto (doce de compota feito de abóbora moranga de casca branca, mel, açúcar e amêndos, tradicionalmente servido em casamentos). Entre os queijos, mizithra, feito de leite e soro, xynomizithra (variação do mizithra, só que com mais soro), manoura, queijo branco e duro, e skotyri, espécie de cream cheese.

O Navagio é um charmoso restaurante debruçado sobre o mar. Foto: reprodução do Facebook
O Navagio é um charmoso restaurante debruçado sobre o mar. Foto: reprodução do Facebook

Em frente a Adamas, há diversas opções de restaurantes. Os mais charmosos e românticos ficam debruçados sobre a praia, em varandas. Entre eles o Mikros Apoplous. Peixes e frutos do mar frescos, saladas, queijo e vinho da casa são as pedidas. O vizinho Navagio segue a mesma linha.

Um pouco fora da rota turística, mas não muito longe do centro de Adamas, está o restaurante O Zygos, uma das experiências mais autênticas que tivemos em Milos. Comandado por uma família, é especializado em carnes e sequer tem cardápio em inglês. Uma senhora veio e nos disse as opções do dia. Atenção para o fato de que os pratos são muito bem servidos e dão facilmente para dois. O ambiente é simples, a comida é saborosíssima, e os preços mais baratos do que os das regiões mais badaladas.

O Hamos: sourtoukiko, cordeiro embrulhado em papel e assado por horas. Foto: reprodução
O Hamos: sourtoukiko, cordeiro embrulhado em papel e assado por horas. Foto: reprodução

Acabamos não conhecendo o famoso O! Hamos, na praia de Papikinou, ainda em Adamas, mas afastada do Centro. Os queijos e carnes são de fazenda própria e o restaurante é elogiado pelos principais guias de viagem. Outro bem contado é o bar KriKri, em Plaka, que tem música ao vivo e uma varanda.

O que fazer

“Milos pode não ter a praia mais bonita da Grécia, mas certamente é o lugar que tem mais praias bonitas no país”, nos disse o recepcionista do hotel onde ficamos em Atenas. Bem, ainda falta muito para visitar todas as ilhas e praias do país. Mas de fato Milos tem paisagens à beira-mar de cair o queixo.

Uma das formações rochosas do Kleftiko, atração de Milos. Foto: almekrl01
Uma das formações rochosas do Kleftiko, atração de Milos, e sua água cristalina. Foto: almekrl01

Kleftiko é provavelmente a mais impressionante. Não é exatamente uma praia, mas um conjunto de formações rochosas brancas cheias de grutas. Em uma delas, há uma pequena faixa de areia. Kleftiko significa “esconderijo de ladrões”: segundo a lenda local, era ali que os piratas se escondiam, nas inúmeras cavernas do lugar. Não é possível chegar até lá por terra, apenas por barco (quer dizer, encontrei quem chegasse, mas não é exatamente recomendável). O branco das pedras vem do fato de que elas se formaram a partir das cinzas do vulcão.

Em Adamas, é possível escolher entre diversos passeios. Decidimos ir em um que levou cerca de nove horas e seguiu por praticamente metade da ilha. O barco para snorkel e mergulho em dois momentos, e são servidos lanche pela manhã e almoço à tarde. Visitamos Cabo Vania, Sykia e Kleftiko na ida e, na volta, avistamos o monastério de Agios Ioannis, Ammoudaraki, TriadesAgathia, as rochas Arkoudes (com formatos que lembram o de ursos) e as vilas de pescadores Fourkovouni, Areti, Klima e Skinopi, com suas syrmata coloridas. Segundo o guia turístico e dono do barco, Elias, junho e setembro são as épocas em que água de Milos está mais cristalina. Porém, em junho ela é mais fria. No fim, Elias ainda nos ensinou costumes da terra, como beber ouzo ou grappa, comer polvo seco ao sol e outros petiscos, além de alguns passos de dança tradicional grega. E ele faz um CD com fotos tiradas por ele no passeio. Há opções mais curtas e também é possível pegar um barco que circunde Milos inteira. Mas, nesse caso, não há paradas para mergulhos. Windsurfe e caiaque são outras atividades comuns da ilha.

Klima e as syrmata: conjunto de garagens para barcos.
Klima e as syrmata: conjunto de garagens para barcos. Foto: Zde

Sarakiniko também chama atenção por sua formação rochosa branquinha em contraste com a água cristalina. Muitos comparam sua paisagem à superfície lunar, e faz sentido. A praia fica entre duas rochas, que acabam formando uma espécie de piscininha natural antes de desaguar no mar. Não é organizada, o que significa que não tem estrutura nenhuma, apenas um banheiro químico e latas de lixo. Ou seja: é preciso levar água, canga, barraca de sol (se for o caso) e lanche. Sarakiniko atrai hippies, casais com crianças, idosos, enfim, todo tipo de turista.

A areia de Sarakiniko lembra a superfície lunar. Foto: Line Lasserre
A areia de Sarakiniko lembra a superfície lunar. Foto: Line Lasserre

A cerca de dez minutos de carro de Sarakiniko, está Papafragas, outra praia com formação rochosa impressionante da ilha. Uma estradinha leva à pequena faixa de areia, onde se forma uma espécie de piscina natural entre dois paredões de pedra cinza-claros. É possível nadar na caverna formada sobre as rochas, de águas cristalinas e frias. O que talvez não seja muito indicado para claustrofóbicos… A menos de 15 minutos a pé, está Filakopi, considerada por muitos a cidade mais antiga da Grécia (remonta ao período neolítico).

Firopotamos é uma pequena praia onde ficam casas de pescadores com as syrma. A faixa de areia é estreita (e tem muitas pedrinhas), a água é cristalina e o lugar é bom para pescar e nadar com snorkel. Os pescadores só ficam na área no verão, quando também fica aberto o restaurante do local. Possui também uma igrejinha ortodoxa. Alguns passeios de barco chegam até lá, mas também é possível chegar até a praia de carro ou a pé, vindo de Plaka (fica a cerca de meia hora).  Também não tem estrutura, é preciso levar tudo. Mandrakia fica pertinho e, embora não tenha praia, merece a visita por conta das típicas garagens de pescadores.

Tsigrado: chega na praia não é fácil.
Chegar em Tsigrado não é tarefa fácil. Foto: Kostas Limitsios

Tsigrado é outra praia estonteante, mas chegar lá não é pra qualquer um: o caminho é por uma estreita passagem entre as rochas, segurando em uma corda, terminando com alguns degraus de madeira. Uma maneira mais fácil (e menos arriscada) de chegar até lá é em algum passeio de barco. Se você tem medo de altura, provavelmente essa é a melhor opção. Uma vez lá, aproveite as águas límpidas cercadas por uma paisagem de tirar o fôlego. Também não organizada.

Paleochori é acessível por terra, de ônibus ou outro transporte. É uma praia formada principalmente por seixos coloridos: transparentes, brancos, laranjas, vermelhos, marrons. A rocha que a circunda tem diversas cores, resultado da combinação de diferentes minerais que a formam. A praia é divida em duas partes interligadas por uma passagem estreita. Quando se nada em suas águas, é possível sentir um leve odor de enxofre, vindo das fontes sulfurosas que estão embaixo d’água. Parecem minicrateras de vulcão (e realmente aquecem as águas) e estão a poucos metros da costa. Se quiser vê-las em ação, leve seus óculos de mergulho e o snorkel. No verão, é uma das mais organizadas da ilha, com bares e restaurantes, aluguel de guarda-sóis e espreguiçadeiras, esportes aquáticos. Para viver a “experiência vulcânica” completa, é possível provar os pratos preparados por um dos restaurantes em uma pedra vulcânica, que tem areia muito quente por baixo.

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Paleochori tem formação rochosa colorida. Foto: T-Vass

Provatas é uma praia mais semelhante às brasileiras, com areia fina amarelo-dourado. Só a água, de um azul cristalino, é que difere. Para variar, é cercada por paredões de rocha. Tem restaurantes e hotéis próximos, e possui aluguel de cadeiras e guarda-sois. Mas é possível também levar sua canga (ou toalha, como fazem os europeus) e estender na areia — embora não seja muito recomendado no sol do verão grego. De Adamas, partem ônibus em diversos horários para lá.

Firiplaka, Psaravolada e Agios Ioannis são outras belas praias de Milos.

A ilha tem alguns sítios arqueológicos que merecem a visita. Em Klima, é possível ver as ruínas da antiga cidade, que foi o primeiro porto de Milos. Depois da destruição de Filakopi, os Dóricos, uma das tribos que habitavam a Grécia na época, construíram a segunda maior cidade no período (entre 1100 AC e 800 AC), que ia do sul de Trypiti até a área onde fica Klima atualmente. É possível visitar as ruínas de duas acrópoles: o monte do Profeta Elias e Pyrgaki. Ali foi encontrada a famosa Vênus de Milo, em 1820, e é possível ver o local exato onde (dizem) isso aconteceu. Ali também está o Antigo Teatro, construído possivelmente durante a Idade Helenística (século III AC). Quando foi destruído pelos atenienses, os romanos construíram um maior, em mármore branco, acima das fundações preservadas do teatro clássico. Com sua localização privilegiada, tem uma vista espetacular e eventualmente recebe apresentações, com capacidade para 700 espectadores.

O Antigo Teatro de Milos. Foto: Kostas Limitsios
O Antigo Teatro de Milos. Foto: Kostas Limitsios

Em Filakopi, é possível ver ruínas do início da Idade do Bronze (cerca de 3000 AC) até o final (1000 AC). Sua localização torna possível vigiar grande parte do mar. Filakopi foi um grande centro cultural e comercial e se desenvolveu muito rápido, graças ao comércio da obsidiana, rocha utilizada para fazer vidro. Foi destruída e reconstruída três vezes. Seu declínio começou quando a antiga cidade de Klima se tornou o centro comercial de Milos. Hoje em dia, boa parte do sítio está submerso, mas ainda assim atrai muitos visitantes. Os objetos ali encontrados estão no Museu Arqueológico.

Perto de Trypiti estão as catacumbas de Milos, cerca de 150 metros acima do mar. Em 2009, a ilha foi proclamada sagrada pela Igreja Católica Ortodoxa, porque as catacumbas seriam o mais antigo monumento cristão no mundo. Em 200 AC, já eram utilizadas como cemitério municipal. Ali, aconteceram os primeiros encontros de cristãos.

As catacumbas, sítio histórico. Foto: Zde
As catacumbas, sítio histórico. Foto: Zde

Paliorema é uma baía com águas cristalinas e seixos amarelados, coloridos pelo enxofre. Além de nadar, é possível aproveitar o passeio para visitar as Theioryheia, as minas de enxofre. Entre 1890 e 1905, elas estiveram em pleno funcionamento. Passaram a estar ativas esporadicamente até a década de 1930, quando voltaram a todo vapor. Em 1978 foram permanentemente desativadas.

Outras atrações da ilha são os museus: o Arqueológico, em Plaka, com objetos pré-históricos e esculturas;  o Sacro, perto de Adamas, que fica em uma igreja de mais de 1.000 anos e tem ícones do século 14 em diante; o Mineral, em Adamas, que mostra a história geológica da ilha, e o do Folclore, que fica atrás da igreja de Panaghia Korfiatissa, em Plaka. Milos também tem clubes noturnos, mas, diante de tantas praias que queríamos explorar, não chegamos a conferir. Fica para a próxima.

Onde ficar

Milos tem sete cidades: Adamas (ou Adamantas, sua denominação antiga), Triovassalos, Pera Triovassalos, Tripiti, Plakes, Plaka (também chamada de Chora), Zefiria e Pollonia. Adamas (que significa “diamante”) é onde fica o porto da ilha e por onde chegam as embarcações vindas de outras ilhas e de Pireu. É o centro de Milos: possui lojas, cafés, restaurantes, hotéis e diversos serviços. Dali partem ônibus para diversas praias e os barcos de passeio. Para quem está viajando sem carro ou outro automóvel, é a melhor opção. O Hotel Portiani é uma opção muito bem localizada, a poucos minutos do porto.

Plaka é a capital da ilha e foi construída no morro que fica na entrada do golfo. É a cidadezinha mais típica, com ruas estreitas, construções em estilo cicladiano e algumas lojas e restaurantes. Na parte mais alta fica o Kastro, a antiga cidade de Milos. Era cercada por muros de castelos, daí o nome. Fica no topo do monte do Profeta Elias, o que permitia, na Idade Média, que se avistasse a aproximação de piratas e outros inimigos pelo Mar Egeu. A arquitetura medieval, com casas e ruas de pedra e quintais, é característica. Tem duas igrejas: Panagia Thalassistra e Panagia Shiniotissa, ou Mesa Panagia. O por do sol visto do alto do vilarejo é o mais famoso da ilha.

Plaka ou Chora, antiga capital da ilha. Foto: pastitio
Plaka ou Chora, antiga capital da ilha. Foto: pastitio

Pollonia fica ao Noroeste de Adamas (a dez quilômetros) e em frente à ilha de Kimolos. Possui uma praia de mesmo nome com areia fina e boas opções de hotéis e restaurantes. É a escolha de quem quer mais tranquilidade na alta temporada, mas com acesso a serviços. De lá, é possível ir a três praias a pé e pegar ônibus para as que são acessíveis por terra, além de barcos para visitar as restantes. De lá também é possível visitar ilhas vizinhas: Kimolos, Agios Ghiorgos, Poliegos e Glaronissia.

Klima, Mandrakia, Fourkovouni e Fyropotamos são vilas de pescadores, que têm as características syrmata, conjuntos de garagens de barcos (syrma) construídas sobre as águas. Segundo nos explicou um guia turístico, no inverno, quando não são usados, os barcos precisam ficar nessas garagens para que seus cascos não rachem.

*Foto do destaque: Kleftiko, foto de Rodhia.com.br

Quem escreveu

Kamille Viola

Data

13 de January, 2017

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Kamille Viola

Kamille Viola é jornalista cultural, apaixonada por música, comida e viagens. Adora mostrar cantos menos conhecidos do Rio para quem vem de fora - e quem é da cidade também. É daquele tipo de gente para quem escrever não é uma escolha: é a única opção.

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Comentários

  • fico muito feliz pelos resultados de minha pesquisa não estava conseguindo muitos resultados a descendência de minha família vem da ilha Adamas.

    - Ana Beatriz Adamas
    • que bom! :)

      - Lalai Persson

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