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Bate-volta: São Thomé das Letras, a cidade mais mística do Brasil

Quem escreveu

Renato Salles

Data

23 de August, 2017

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Apresentado por

São só cerca de 6 mil habitantes, um vilarejo muito rústico rodeado de montanhas e estradinhas de terra, em um rincão escondido da Serra da Mantiqueira mineira. Mesmo assim, a pequena São Thomé das Letras é quase um ponto de peregrinação para pessoas em busca de um estilo de vida mais simples, do contato com a natureza exuberante e, principalmente, muito misticismo.

O nome da cidade vem de uma lenda do século 18. Nela, o escravo fugitivo João Antão teria encontrado em uma gruta uma imagem de São Tomé junto com uma carta escrita em português perfeito. Ao entregá-la ao seu senhor, este lhe concedeu alforria, e ainda ordenou a construção da Igreja Matriz, que domina até hoje a praça central. A região foi, por décadas, grande extratora da famosa pedra mineira, chamada aqui de, claro, São Tomé. A história é tão marcante que até hoje a arquitetura local é dominada pelas casinhas revestidas na pedra, que acabaram tombadas em 1996 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais.

Vista da Igreja São Thomé das Letras - foto: Renato Salles
Vista da Igreja São Thomé das Letras – foto: Renato Salles

Por aqui não se encontra luxo, mas em troca a cidade oferece muita arte, hospitalidade e um céu estrelado de tirar o fôlego. Entre histórias de aparições de ovnis e túneis misteriosos, quem chega a São Thomé não consegue fugir da aura hippie que parece não mudar desde os anos 70. Durante o dia, os visitantes se ocupam com as trilhas e cachoeiras, grutas e passeios no entorno da cidade. Ao cair da tarde, o programa gira em torno de restaurantes com farta comida mineira, muitas lojinhas de artesanato, e bares meio improvisados de rock com música ao vivo. Pode se preparar porque vai tocar Raul!

Como chegar

Saindo de São Paulo, o caminho até São Thomé tem quase 360km, mas pode contar aí com pelo menos 4h30 de estrada para chegar. O trajeto é quase todo pela Rodovia Fernão Dias, que tem ótimas condições. Na saída 753A, siga em direção a Três Corações pela MG-862, que corta da cidade. Passando por ela, a estrada asfaltada acaba, e o resto do caminho é por terra. As condições desse trecho final são boas, mas a velocidade fica bem reduzida por esses 40km finais.

As fachadas das casas de pedra estão por todo lado - foto: Renato Salles
As fachadas das casas de pedra estão por todo lado – foto: Renato Salles

Quando ir

São Thomé das Letras fica há mais de 1400m de altitude, o que a coloca entre as 5 cidades mais altas do Brasil. Por conta disso, o clima é relativamente ameno, e as noites são sempre frias, mesmo no verão. Nessa época, os dias podem ser quentes, o que é muito bom para aproveitar as cachoeiras. Mas também é nessa época que mais chove. A estação seca é o inverno, e o auge do movimento acontece entre julho e agosto.

Os fins de semana costumam ser tranquilos, e visitar a cidade não requer tanto planejamento prévio. Os feriados prolongados costumam ser mais agitados, e você vai encontrar restaurantes e bares cheios. O auge do movimento é em agosto, geralmente no terceiro fim de semana, quando acontece a Festa de Agosto, ou Festa da Colheita, que teve origem em meados do século 19. Nos últimos anos, a festa recebeu shows de artistas do calibre de Zeca Baleiro, Milton Nascimento, Zé Ramalho, Alceu Valença e Nando Reis.

Cruzeiro de São Thomé das Letras - foto: Renato Salles
Cruzeiro de São Thomé das Letras – foto: Renato Salles

Onde comer

Na terra da panela de pedra, vai ser difícil fugir da boa e tradicional comida mineira. E pode escrever que você vai comer muito! Todos os restaurantes, mesmo os mais caros, tem atendimento caseiro, e muita fartura nos pratos. A maioria deles é grande suficiente para se dividir, o que faz os preços ficarem bem convidativos. E alguns funcionam com self-service, colocando os vários panelões cheios à disposição para você se servir à vontade.

É o caso do Restaurante da Sinhá. Ele fica em um casarão todo de pedra, como manda o figurino, e a decoração é toda feita com objetos antigos da roça. O buffet tem desde uma farta seleção de saladas e legumes frescos até os panelões enormes de feijoada de primeira sobre o fogão a lenha. Quem quiser, ainda pode optar pelas opções à la carte. Se conseguir não deixe de trocar um dedo de prosa com a D. Lucila, que comanda o lugar, para descobrir alguns dos causos mais interessantes da cidade.
Restaurante da Sinhá
Rua Capitao Pedro Jose Martins 31 – Tel (35) 3237-1348

Um dos restaurantes mais conhecidos de São Thomé é, sem dúvida, O Alquimista. Tanto que ele já virou até uma pequena rede, com 3 estabelecimentos espalhados pela cidade, incluindo o Cantina e o Praça. Esse último é o mais fácil de achar, pois fica praticamente em frente à Praça da Matriz. Construído com um casarão colonial, tem um salão grande, mas costuma ficar cheio e aí o atendimento se enrola um pouco. Os pratos individuais são grandes, e dá para dividir. O cardápio das três unidades é grande, e varia um pouco entre eles.
O Alquimista / Facebook
Rua Capitão Pedro José Martins, 7 – Tel (35) 3237-1203
O Alquimista Praça
Praça Barão de Alfenas 60
O Alquimista Cantina
Rua Capitão Pedro José Martins, 80

Com o friozinho que envolve a cidade todas as noites, nada melhor que uma bela pizza, com muito queijo derretido. Mas a receita da redonda que virou a marca de São Thomé tem um quê bem mineiro: ela é assada na pedra sabão. Muitos restaurantes incluíram a pizza nos seus menus, mas as melhores você encontra na Ser Criativo Pizzaria. Eles começaram como um restaurante vegetariano, para suprir a necessidade de quem não encara a comida mineira tradicional, mas suas pizzas fizeram tanto sucesso que resolveram se dedicar.
Ser Criativo Pizzaria
Praça Getúlio Vargas, 18  – Tel (35) 3237-1266

Quem cansar de tanta comilança, e quiser algo mais simples na refeição, o Thomé Café é uma boa pedida. Ao invés dos pratões, aqui é um lugar para comidinhas. Caldos, sanduíches, salgados formam o menu, incluindo até opções veganas, como o hambúrguer de grão de bico. À noite às vezes tem música ao vivo, e como fica aberto até mais tarde, pode salvar os esfomeados da madrugada.
Thomé Café
Praça Barão de Alfenas 33 – Tel (35) 99120-0139

Vista da Pirâmide de Bruxa - foto: Renato Salles
Vista da Pirâmide de Bruxa – foto: Renato Salles

Onde curtir música

Para uma cidade tão pequenininha e escondida, São Thomé tem uma noite curiosamente agitada. Mas não pense que vai encontrar baladas super produzidas. A noite aqui é animada por pequenos bares, que oferecem shows de bandas nostálgicas de rock, e o melhor a fazer é entrar e sair conforme a vontade. Todo segundo sábado do mês acontece o “Pôr do Rock”, com uma banda de rock tocando na pirâmide a partir das 15h, com um cenário de filme ao redor.  Mas tem para outros gostos. Além do rock, ainda existem lugares dedicados ao forró, e você sempre encontra grupos fazendo rodas de violão na praça central e no Morro do Cruzeiro.

Em um espaço realmente reduzido, com só 6 mesas, o Empório consegue ser um restaurante, um bar e uma mini casa de shows, com Jimi Hendrix e Janis Joplin nas portas dos banheiros. Ótimo lugar para quem quer comer bem ou só petiscar, esticar para uns drinks, e ainda pegar um show de blues verdadeiro, sem embromation.
Empório
Praça Barão de Alfenas 180 – Tel (35) 99940-7507

O Caverna Pub tem uma proposta parecida, mas aqui o som é mais eclético e o tema principal é de quadrinhos de heróis. As mesas mais disputadas são as que ficam na calçada. Os preços são um pouco mais altos, e o cardápio tem foco na comida de boteco mesmo. Mas é um bom lugar para esticar a noite jogando conversa fora com os amigos.
Caverna Pub
Praça Barão de Alfenas 44 – Tel (35) 99844-4879

O que fazer

É impossível conhecer as belezas da região de São Thomé sem se envolver nas histórias e lendas que rondam esses lugares. Diz-se que a cidade fica em um dos sete chacras do mundo, e que por isso está carregada de energia. Talvez por isso tanta gente venha atrás de descobertas místicas, ou para desvendar mistérios nunca solucionados.

O caso mais conhecido é sobre o túnel que supostamente ligaria a cidade a Macchu Picchu, no Peru. Segundo a lenda, os Incas teriam localizado a região de São Thomé devido a suas propriedades astrológicas e construído, a partir dali, uma passagem subterrânea de mais de 4 mil km. A saída desse túnel seria onde fica a Gruta do Carimbado. Diversas tentativas foram feitas por pesquisadores para desvendar o que acontece lá, mas ninguém conseguiu chegar ao fundo dela para descobrir. A gruta fica na estrada para São Bento do Abade, a 6 km do centro. Infelizmente, a entrada na gruta foi proibido pela justiça por conta da degradação causada pelos turistas.

Cachoeira das Borboletas - foto:
Cachoeira das Borboletas – foto: Adtormena

Em compensação, duas outras estão abertas à visitação. A Gruta do Labirinto e a Gruta de Sobradinho ficam no distrito de Sobradinho. Elas chegam a 150m de extensão em forma de labirinto, com alturas que variam entre 3 e 6m de altura, e centenas de cores pelas paredes de arenito. Ao lado ainda estão a Cachoeira do Sobradinho e o Bar da Gruta, que serve como ponto de apoio. Existe ainda uma lenda sobre escravos que fugiram com ouro de seus senhores e se esconderam nas grutas de São Thomé, mas que morreram de fome. A crença diz que seus corpos não se decompuseram, e estão secos, até hoje protegendo seu tesouro. Quem sabe você não acha?

Muita gente vai a São Thomé para conhecer também suas cachoeiras. São 8 ao redor da cidade. A mais bonita é a Véu de Noiva. Ela fica a 8km do centro, na estrada para Cruzília. São 20m de queda d’água, formando poços de 2m de profundidade. Por ali, é possível fazer rapel, tirolesa e cachoeirismo. As mais próximas da cidade são as cachoeiras do Flavio e da Eubiose. Ambas tem quedas pequenas, mas formam piscinas rasas que atraem famílias. Já a Cachoeira Shangri-lá fica em um córrego que desce da Serra do Pico da Gavião, e forma várias pequenas quedas e piscinas, ao longo de cerca de 1km de extensão. A trilha de acesso a ela ainda é cheia de pinturas rupestres dos ancestrais da região.

Protegida por uma trilha de dificuldade maior, a Garganta do Diabo é uma das mais bonitas da região, e também a preferida dos praticantes de rapel. O caminho até lá inclui uma trilha pesada e escalada no meio da mata. Mas o desafio vale a pena não só pela cachoeira que desce pela fenda que dá o nome ao lugar, mas por ficar a 500m do Vale das Borboletas. Esse recanto de água cristalina no meio da mata fechada foi escolhido por várias espécies de borboletas para se reproduzir, e dependendo da época, os visitantes são brindados pelo espetáculo de cores voadoras ao seu redor.

Quem não estiver em uma pegada tão radical, e preferir a segurança das ruas calçadas, pode aproveitar para conhecer as igrejas da cidade. A mais famosa é sem dúvida a Igreja da Matriz, que fica bem no meio da Praça Barão de Alfenas e do buxixo de bares e restaurantes. Construída em 1785 em estilo barroco, é uma obra do artista João José da Natividade. Ao lado ainda fica a Gruta de São Tomé, que segundo a lenda, deu origem à cidade. Mais afastada e mais curiosa, a Igreja do Rosário é conhecida como Igreja de Pedra, justamente por ser inteira construída em pedras sobrepostas. Dentro ela não tem nenhum ornamento, e ninguém sabe quando ela começou a ser construída, nem quem foi o idealizador.

Igreja de Pedra - foto:
Igreja de Pedra – foto: Cesar Gritti

Mas para conhecer o ponto turístico mais famoso de São Thomé, vai ter que por as perninhas para trabalhar. Seguindo para o alto da cidade, por ruinhas tortuosas e íngremes, chega-se à Casa da Pirâmide. Essa casinha foi abandonada no meio da construção, toda em pedra claro, e virou ponto de encontro e o mirante mais movimentado da cidade. A vista de 360º de lá de cima é espetacular, e é o melhor lugar para se apreciar o pôr-do-sol. Seguindo uns 150m para cima, o Morro do Cruzeiro é o ponto mais alto, e o melhor para ver o céu estrelado à noite, com um violão e um cobertor. Se quiser um mirante mais tranquilo para chamar de seu, você pode ainda seguir para a Pedra da Bruxa, ali perto, e depois ainda seguir por uma série de pedras altas usadas para escalada chamada de Portal dos Ventos, ou Portal O Guardião. Não tem como não achar um cantinho especial para se conectar com o cosmo por ali.

Compras

Ao redor da Praça da Matriz, o que não falta é loja de souvenir. A cada esquina você encontra uma lojinha vendendo as peças mais diferentes e coloridas de artesanato. Os mais comuns, obviamente, são os objetos exotéricos, como incensários, apanhadores de sonhos, cristais energéticos, mandalas e esculturas de gnomos e fadas. Mas quem quiser uma lembrança mais prática, pode encontrar boas opções de panelas mineiras, vasos de barro, alimentos de produção artesanal e joias de prata. E como não poderia faltar, muita roupa colorida com estampa tie-dye. Afinal, o espírito hippie estará sempre firme e forte quando se falar em São Thomé das Letras.

*Foto do destaque: Flickr – Rodolfo Magalhães

Quem escreveu

Renato Salles

Data

23 de August, 2017

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Apresentado por

Renato Salles

Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.

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    Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.