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O Brasil é seguro?

Quem escreveu

Vanessa Mathias

Data

20 de December, 2016

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“O Brasil é seguro?”

De repente você se transforma num oráculo. Está lá, na sua frente, toda de bochechas rosadas, a curiosa irlandesa com sua havaianas e um Lonely Planet na mão. Do outro lado, você: a fonte mais precisa de informação sobre criminalidade no Brasil. Ao menos para ela.

E como responder se o Brasil é seguro? Por um lado, toda a referência que ela teve na vida foi Cidade de Deus e algum documentário sensacionalista no Independent.  Sua primeira reação é jogar um “deixa disso” e explicar que não, você não cruza diariamente com o Zé Pequeno ao tentar comprar um pãozinho. Ao mesmo tempo, tem medo que a pobre menina se sinta em Zurique desfilando com seu MacBook novo em Copacabana. E óbvio que, em caso de arrastão, você sentirá mais culpa que católico de ressaca no Domingo de missa.

Foto Natalie Goguen
Foto Natalie Goguen

De todas as perguntas que me fazem sobre o Brasil, nenhuma faz eu escorregar minha dialética mais que sabonete de pastelaria. O fato é que, viajando há vários meses e tendo que responder essa pergunta semanalmente, tive que desenvolver um método.

Velho é quem tem 10 anos a mais que eu…

Meu sábio avô já me dizia. A percepção de segurança funciona mais ou menos da mesma forma. Na escala de segurança, o ponto zero acaba se ajustando à nossa realidade do dia a dia: perigoso é onde é pior que em casa.

Se formos aceitar esse princípio, então a resposta deveria ser diferente dependendo de com quem falamos. Um sueco? É sim, perigosíssimo. Com um mexicano? Não, nem tanto. Com um iraquiano? O Brasil é seguro.

O Brasil é seguro?
WIkicommons

Aos números…

Segurança pode ser determinada por vários fatores, dependendo do índice que você utiliza.

Pode incluir questões estruturais, como o acesso a transporte e hospitais, fenômenos meteorológicos como terremotos, ou estabilidade de conflitos ou ações armadas, por exemplo. Mas ao responder sobre segurança, vamos partir do princípio que estamos falando sobre crimes, e não sobre a possibilidade do país ter um tsunami ou entrar em guerra.

Não é preciso assistir Cidade Alerta. Quantos amigos na sua timeline são roubados por semana? Sabemos que o país não é lá o dos mais seguros. Mas temos noção do quanto?

Vivemos em um dos países mais inseguros do mundo

De acordo com o Numbeo, o Brasil é o 9º país mais violento, entre 118 estudados. A Forbes chamou recentemente o país de  “a capital de assassinatos do mundo”. Temos a maior quantidade de capitais – 22 – na lista das 50 com mais homicídios. Com exceção de alguns países da América Central e África do Sul, temos a maior quantidade de assassinatos com intenção de matar. Também um dos maiores em roubos.

Um dos relatórios mais interessantes para nos compararmos ao resto das principais cidades do mundo é o do Economist, com Rio e São Paulo mal avaliados em “personal safety”. Ou seja, a probabilidade de ser morto a cada 100.000 pessoas é maior aqui do que em muitos países em constantes ataques terroristas.Mapa de homicíos inetrnacionais

captura-de-tela-2016-12-19-as-18-16-41 Número de homicídios por 100 mil pessoas, Wikicommons, 2016 ou mais recente

Então a resposta é “Não”?

Se você tivesse que responder em apenas uma pequena frase, o mais honesto seria “Não, o Brasil não é seguro”.  Mas as coisas complicam um pouco. Desse número de homicídios, interessante é que, olhando para dentro do Brasil, São Paulo ou Rio de Janeiro são bem avaliados em comparação a outras capitais, segundo o Mapa da Violência.

Isso é porque existe alta correlação entre pobreza e homicídios, então as regiões Nordeste, Centro Oeste e Norte lideram o ranking. Agora a situação se complica porque, mesmo dentro das grandes capitais, a chance de crimes violentos na periferia e subúrbio são muito piores. Infelizmente, a diferença é gritante. A chance de você ser vítima de um crime se estiver ou morar no Itaim Paulista, em São Paulo, são realmente maiores que nos Jardins. Ou nas favelas versus a Zona Sul no Rio de Janeiro. O pobre sempre se ferra.

Portanto nas regiões mais ricas, e onde estão também as zonas turísticas, o perigo de crimes violentos é comparável a outras cidades com alto desenvolvimento, como Nova York ou Londres.

… e a irlandesa?

Com tudo isso em mente, cada um tem a sua versão da resposta à famigerada pergunta. A minha, ficou assim:

“Não, o Brasil não é seguro. O Brasil é um país de contrastes, injusto, e intrigante por isso mesmo. Ir para lá é  testemunhar o que é um país rico e pobre ao mesmo tempo, desenvolvido e sub-desenvolvido. Mas também, o quanto as pessoas conseguem ser felizes independente desses problemas.

Essa parte é quase tão interessante quanto o país em si. Você terá que aprender sinais e cuidados que não está acostumado, desde não tirar o celular em público, andar com vidros fechados, e até que meio de transporte utilizar. E nunca reagir. Os brasileiros, no entanto, estarão muito dispostos a ensinar, ajudar, e você aprenderá o que é ser recebido de braços abertos”.

E você, como responde?

Quem escreveu

Vanessa Mathias

Data

20 de December, 2016

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Vanessa Mathias

Seu exacerbado entusiasmo pela cultura, fauna e flora dos mais diversos locais, renderam no currículo, além de experiências incríveis, MUITAS dicas úteis adquiridas arduamente em visitas a embaixadas, hospitais, delegacias e atendimento em companhias aéreas. Nas horas vagas, estuda e atua com pesquisa de tendências e inovação para instituições e marcas.

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Comentários

  • É uma questão difícil, mas eu sou sincero: é perigoso sim. Prefiro pecar pelo excesso do que pela falta. E permita-me discordar sobre sua análise da violência nas regiões mais ricas e turísticas ser comparável à Nova York ou Londres. É claro que qualquer cidade grande e turística tem seus perigos (afinal mão leves e pequenas gangues estão por todos os lados), mas em Nova York a moto não vai estacionar ao seu lado no semáforo e apontar uma arma pedindo pra você entregar tudo como acontece em São Paulo. Ou, se você se perder em Londres porque o GPS do carro te indicou uma rua errada, você não vai ser recebido com tiros como acontece com (muita) frequência no Rio com quem se perde e entra acidentalmente em um das (muitas) favelas dominadas pelo tráfico. Aliás, o Rio é um dos melhores exemplos de como a violência pode ser democrática e não escolhe vítimas. Em bairros tradicionamente classe alta como Leblon os assaltos são comuns, e até arrastão na praia de Ipanema de vez em quando acontece. Definitivamente não é igual à Londres ou Nova York. A sensação que eu tenho é que aqui a violência é mais extrema e por mais que você siga aquelas regrinhas básicas de segurança que valem pra todo lugar (não andar sozinho em lugares escuros e desertos, não tirar o olho da sua bolsa etc) a violência no Brasil pode te atingir independente do quão “na linha” você ande. Não tem como se previnir de ser assaltado em um arrastão na praia ou no túnel Rebouças em plena luz do dia. Mas concordo contigo a respeito do conceito que a percepção da violência muda conforme a origem do ouvinte.

    - João Carlos Matarazo

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