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Berghain: por que vale a pena ir?

Quem escreveu

Domingos Lepores

Data

20 de October, 2015

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*Atualizado em julho 2022

Berlin, the place to be. O slogan da campanha publicitária criada para promover o turismo na cidade não poderia ser mais realista. Berlim talvez seja a cidade mais eclética da Europa, onde é possível ter um estilo de vida urbano dos mais saudáveis, com parques, ciclovias e incontáveis opções de healthy food, mas também pode ser uma tentação incontrolável para os amantes da noite, com seus efeitos indesejados na manhã seguinte.

Segundo um estudo do Visitors Bureau de Berlim, um terço dos 11 milhões de visitantes anuais da cidade vêm atraídos pela enorme programação da vida noturna berlinense.

A tradição local de liberdade sexual, frouxa política de repressão às drogas, orientação à esquerda – incluindo muitos movimentos anarco-punks – combinada com alto índice de desemprego em relação ao resto da Alemanha, deixa os berlinenses livres, leves e soltos para esticar o final de semana sem precisar acordar cedo na segunda-feira, fazendo de Berlim uma das capitais européias mais lembradas quando se pensa em vida noturna.

A cidade recebe hordas de turistas ávidos por diversão, mas os visitantes não são sempre bem-vindos na cidade, numa lógica meio torta: ao mesmo tempo em que trazem dinheiro e diversidade cultural, a demanda por serviços cresce e faz aumentar os preços, injetando capitalismo na bolha anárquica da noite berlinense e obrigando os berliners a trabalhar mais para ter mais dinheiro, deixando os locais com menos tempo para se esbaldarem na noite da cidade.

Os berlinenses até apelidaram de “EasyJet tourists” os turistas do sul da Europa, especialmente espanhóis e italianos, que chegam apenas com uma mochila nas costas (lembre-se que a companhia aérea low-cost cobra caro por bagagem despachada no porão do avião) para passar o final de semana e aproveitar cada minuto na cidade. Dormir certamente não está nos planos, mas, de olho no filão, o braço hoteleiro da empresa abriu em 2010 um hotel de sua rede no bairro central de Mitte.

Foto: Alberto Cabello
Foto: Alberto Cabello

Para muita gente, pensar em sair à noite para dançar e ouvir boa música em Berlim, é pensar em Berghain. O clube, um dos mais conhecidos do mundo, ocupa o prédio de uma central de energia elétrica desativada, que pertencia à antiga Berlim Oriental, na divisa dos distritos de Kreuzberg, do lado oeste do antigo Muro, e de Friedrichshain, do lado leste, e deve seu nome às suas últimas sílabas: Kreuzberg Friedrichshain. 

A noite de sábado, que termina somente na segunda-feira às 5h da manhã, faz do lugar o porto seguro para os amantes do techno, com seu line-up invejável e seu sistema de som excepcional.

Entrar no clube, porém, não é coisa para debutantes, já que a casa adota uma das door policies mais severas, comentadas e incompreendidas do mundo. A alcatéia de leões de chácara mais parece soldados desarmados controlando um dos inúmeros checkpoints do antigo Muro. Não deixa de ser uma gigantesca contradição o clube ser ainda um sucesso de público, justamente numa cidade como Berlim, que sempre se vangloriou da sua liberdade de expressão e da falta de barreiras.

Conseguir ser admitido é assunto de vários blogs e fóruns de discussão pela internet afora e, num balanço geral, conclui-se que o “dress to impress” é sinônimo de fracasso na empreitada. Até mesmo um perfil no Instagram foi criado para quem quiser se manter atualizado sobre o tamanho da fila e saber se estão sendo barradas mais pessoas do que o habitual

A espera na fila pode durar horas na madrugada do domingo e mostra que metade das pessoas entra e outra metade ouve um nein em alemão. Muita gente, no entanto, concorda com essa política restrita, afirmando que ela mantém a atmosfera underground do lugar impedindo o acesso à diversão a casais vestindo terno risca de giz e salto agulha. Dizem também que a cena clubber deve ser preservada e que por isso a entrada de muitos newbies não deve ser permitida, pois os veteranos não seriam capazes de passar a tradição do lugar aos novatos…

Foto: https://www.migreat.de
Foto: www.migreat.de

Mas se você for, ou pretende ser, um hipster, vestido de preto e chegar com a sua bike, não deixando furar o pneu no chão cheio de cacos de garrafas de vidro quebradas, trancá-la com um cadeado em uma das grades da entrada, esperar sozinho na fila fumando um cigarro porque seus amigos já estão lá dentro e sem dar atenção a estranhos, sua entrada tem tudo para estar garantida.

Em quase 11 anos de existência, o clube ainda se mantém underground, apesar de tanta gente ao redor do mundo querer participar da festa e de ser tão comentado na mídia mainstream: Lady Gaga lançou disco lá em 2013 e até mesmo a atriz Claire Danes pagou um mico dançando “techno” ao falar sobre o Berghain no programa da Ellen DeGeneres.

Ultrapassada a entrada e ter a pulseirinha colocada no pulso, que permite sair e entrar novamente (paga-se 5 euros para reentrar), a primeira impressão que se tem é de entrar num templo religioso, já que você deve abdicar de um luxo para poder respeitar a privacidade alheia: tirar fotos não é permitido e uma etiqueta colorida é colada na objetiva da câmera do seu telefone. Até a hashtag #berghainsticker no Instagram foi criada e mostra a paleta de cores fluo das etiquetas, numa forma divertida de protesto.

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O celular com a câmera bloqueada

A impressão de estar num templo não poderia mesmo ser mais apropriada. Thomas Karsten, um dos arquitetos responsáveis pela renovação do prédio de concreto bruto em 2004, concebeu o clube para que realmente se parecesse com um grande oratório da Idade Média. Não por acaso, o sex club, localizado no mesmo lugar, mas com entrada, área e programação independente, foi batizado como Lab.Oratory.

E realmente a atmosfera é – digamos – transcendental. Logo à primeira vista, após deixar a ante-sala da chapelaria, a sensação é de estranhamento e vai se arrefecendo à medida que os decibéis vão aumentando, transformando-se em uma sensação de liberdade única, em um ambiente propício a por em prática todos os desejos reprimidos de hedonismo, onde o carão não tem vez. Não há julgamento ou censura alguma: todo mundo está lá para se divertir, sem regras pre-estabelecidas, a não ser a do respeito ao próximo.

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Foto: Antenne Springborn

Não há decoração ou espelhos nas paredes da pista, cujo pé-direito tem 18 metros. A iluminação é minimalista – uma provocação em se tratando de uma antiga central de distribuição elétrica – e a atenção é toda voltada para a música, veiculada através de um poderosíssimo sistema de som, considerado um dos melhores do mundo.

Mas se assim como eu, você não tiver tímpanos ultra-resistentes para ficar horas na pista principal, a pedida é subir no segundo andar, que abriga o Panorama Bar. É praticamente um outro clube, bem menos dark, onde impera uma funky-disco-boogie-house irresistível e incapaz de deixar alguém parado.

Não deixe de tentar viver essa experiência única quando estiver em Berlin, porque depois dela nenhuma outra festa vai ser a mesma. E quem já foi há de concordar comigo!

Dedico este post à querida amiga Andrea Miranda.

Quem escreveu

Domingos Lepores

Data

20 de October, 2015

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Domingos Lepores

No seu aniversário de sete anos, ganhou um globo terrestre e pouco depois já sabia (quase) de cor o nome das capitais dos países do mundo. Ainda não conheceu a Ásia e a Oceania, mas mudou há cinco anos para Paris e mora há dois em Berlim. É péssimo em senso de orientação. Sempre acaba se perdendo nas ruas transversais e achando aquele café ou loja que você vai ver indicado na edição de um guia de viagem só no ano seguinte.

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    Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.